PIB cresce 2,9% em 2023; economistas comentam

Paulo Dantas da Costa, Antonio Corrêa de Lacerda, Carla Beni, Róridan Duarte e Ana Claudia Arruda analisam desempenho da atividade econômica no ano passado 

O IBGE divulgou nesta sexta-feira (01) o resultado do PIB brasileiro de 2023, com um crescimento de 2,9% em relação ao ano anterior. O resultado é decorrente de uma expansão de 15,1% no setor agropecuário, 1,6% na indústria e 2,4% no setor de serviços. A taxa de investimentos ficou em 16,5%. 

Sob a ótica da despesa, o consumo das famílias avançou 3,1%, enquanto a despesa do governo teve crescimento de 1,7%. No setor externo, as exportações subiram 9,1% e as importações caíram 1,2%. 

O presidente do Cofecon, Paulo Dantas da Costa, analisou o resultado do ano passado. “Destacamos o excelente desempenho do setor primário, especialmente na produção de soja, minério de ferro e petróleo. Este é um primeiro dado importante”, aponta Dantas. “Mas este crescimento verificado no ano passado ocorreu de forma desigual. Nos últimos dois trimestres o desempenho da economia foi nulo, enquanto nos dois primeiros houve este crescimento que resultou na expansão de 2,9%. Esta é a realidade. Espero um 2024 melhor, na medida em que temos o emprego e os salários com um bom desempenho”. 

“Destacamos o excelente desempenho do setor primário, especialmente na produção de soja, minério de ferro e petróleo. Este é um primeiro dado importante”, aponta Dantas.

Paulo Dantas da Costa, presidente do Cofecon

Melhora no emprego e nos salários 

A melhora no emprego e da renda também foi destacada pelo conselheiro federal Antonio Corrêa de Lacerda. “Além do crescimento, que foi expressivo, tivemos uma melhora significativa do emprego e da renda dos brasileiros. Foram criados cerca de dois milhões de empregos novos, tivemos uma inflação bastante controlada e próxima da meta, a queda dos juros, que ainda estão elevados, mas estão em queda, e um excelente resultado na balança comercial, de quase 100 bilhões de dólares”, expressou o economista.  

O conselheiro federal lembra que, no início de 2023, as expectativas de crescimento eram inferiores a 1%. “Por circunstâncias que às vezes fogem ao controle da política econômica, o resultado de 2024 será, talvez, um pouco menor, da ordem de 2,5%, mas ainda significativo”, comentou Lacerda. “Quero destacar ainda, do ponto de vista econômico, três programas que deverão trazer resultado nos próximos anos: o Novo PAC, com investimento previsto de 1,7 trilhão de reais; o plano de transição energética; e o Nova Indústria Brasil. São programas importantes para colocar o País no campo da geração de novas oportunidades, da agregação de valor e de atividades para um Brasil economicamente mais robusto, ambientalmente e socialmente mais sustentável”. 

“Além do crescimento, que foi expressivo, tivemos uma melhora significativa do emprego e da renda dos brasileiros. Foram criados cerca de dois milhões de empregos novos, tivemos uma inflação bastante controlada e próxima da meta, a queda dos juros, que ainda estão elevados, mas estão em queda, e um excelente resultado na balança comercial, de quase 100 bilhões de dólares”, expressou o economista.  

Antonio Corrêa de Lacerda, conselheiro federal

A economista Carla Beni avalia que o resultado de 2023 deve ser comemorado, e também ressaltou a melhora no emprego e nos salários. “Na agropecuária, nem o próprio setor esperava um crescimento tão alto. Tivemos um recorde de exportações no ano passado, inclusive quando medimos em volume embarcado. Tivemos uma produtividade excelente”, comentou Beni. “Outro fato relevante foi o consumo das famílias, representado pelo resultado do mercado de trabalho. Tivemos uma recuperação dos postos de trabalho e dos salários, com a retomada do aumento real do salário mínimo”. 

Beni também destaca o desempenho do setor de serviços. “Ele é responsável por 70% do PIB, e aí temos a grande relevância do mercado de trabalho, porque é o segmento que mais emprega. Tivemos uma retomada no setor de bares, restaurantes e eventos, finalizando todo o processo da pandemia”, explicou. “Outra consideração importante, e que ainda não favorece a indústria, está na elevada taxa de juros. Todos os itens que dependem de crédito, como bens duráveis de maior valor agregado, estão atrelados a uma taxa de juros ainda muito alta no Brasil. Mesmo o Banco Central iniciando uma queda, ela ainda está em dois dígitos”. 

“Ele [setor de serviços] é responsável por 70% do PIB, e aí temos a grande relevância do mercado de trabalho, porque é o segmento que mais emprega. Tivemos uma retomada no setor de bares, restaurantes e eventos, finalizando todo o processo da pandemia”, explicou Beni.

Carla Beni, professora da Fundação Getulio Vargas

Taxa de investimentos foi de 16,5%; política fiscal e juros altos atrapalham 

A taxa de investimentos de 2023 foi de 16,5%, apresentando uma queda de 1,3 ponto percentual em relação ao nível registrado no ano passado (17,8%). O nível dos investimentos tem sido apontado como uma das causas do crescimento baixo da economia brasileira nos últimos anos. 

“Historicamente, tivemos nosso pico de investimentos nas décadas de 1970 e 1980, com média em torno de 21,9% do PIB. O ponto mais alto foi 1989, com 26,9%. Depois da década de 1990 só ultrapassamos 20% em 1995 e entre 2010 e 2013. Em 2017 chegamos a irrisórios 14,6%”, comenta o economista Róridan Duarte, membro da comissão de Política Econômica do Cofecon. “Parece que este é o novo patamar da taxa de investimentos do Brasil, algo entre 16% e 18% do PIB”. 

Em relação ao investimento público, Róridan observa que ele “tem sofrido fortes e constantes constrangimentos nos últimos anos e a causa é, sobretudo, a política fiscal contracionista. O arcabouço fiscal baseado no teto de gastos praticamente eliminava as possibilidades de ampliação do investimento público”. Além disso, o orçamento discricionário do governo vem sendo reduzido. “E tende a piorar nos próximos anos, com o abocanhamento de parte destes recursos pelo Congresso Nacional, via comprometimento para atender emendas parlamentares”. 

O investimento privado tem sido afetado pelos juros altos. “As empresas preferem canalizar recursos para os ganhos financeiros maiores e com menor risco. É difícil ‘competir’ com o Tesouro pagando 5% a 6% ao ano acima da inflação. Impacta também aqueles programas que dependem do aporte de recursos privados”, pontuou. Róridan também aponta que a taxa de investimentos do Brasil deveria ser de, no mínimo, a média mundial – em torno de 20%. “Uma meta de médio prazo seria igualar estes níveis nos próximos anos. A média dos países em desenvolvimento tende a ser maior, o que quer dizer que, mesmo atingindo a média global, estaríamos abaixo dos concorrentes diretos. Mas já seria um ganho”. 

“Historicamente, tivemos nosso pico de investimentos nas décadas de 1970 e 1980, com média em torno de 21,9% do PIB. O ponto mais alto foi 1989, com 26,9%. Depois da década de 1990 só ultrapassamos 20% em 1995 e entre 2010 e 2013. Em 2017 chegamos a irrisórios 14,6%”, comenta Róridan Duarte.

Róridan Duarte, membro da comissão de Polítca Econômica do Cofecon

Consumo das famílias cresceu 3,1% 

A exemplo do que vem acontecendo nos últimos anos, o consumo das famílias cresceu mais que o do governo (3,1% contra 1,7%). A última vez que o aumento da despesa do governo foi maior que o das famílias foi em 2018 (em 2020, ano mais agudo da pandemia, o consumo das famílias caiu mais que o do governo). 

“No consumo das famílias, o resultado foi decorrente das medidas do governo federal que impactaram a renda: o aumento do Bolsa Família, a valorização do salário mínimo e os reajustes dos servidores em diversas áreas. Além disso, o mercado de trabalho vem apresentando enorme progresso com redução significativa na taxa de desemprego, que está nos menores níveis dos últimos dez anos”, avalia a conselheira federal Ana Cláudia Arruda. “A queda dos juros já em curso, combinada à inflação e recuperação do mercado de trabalho, possibilitará uma trajetória de manutenção do PIB em 2024. É importante destacar que a economia brasileira possui setores pujantes que poderão ter um papel relevante no ano de 2024, como o agropecuário e o de petróleo”. A economista também aponta que o fato de o consumo do governo ter crescido menos denota a capacidade do setor privado de responder ao ambiente econômico. 

Ana Claudia espera que a redução dos juros melhore a taxa de investimentos. “A taxa básica deve chegar a 9%, o que será importante para a trajetória de reconstrução e crescimento da economia, liderada pela formação bruta de capital fixo (investimento)”, afirmou. “As expectativas para 2024 são, portanto, de retomada da confiança e otimismo, e espera-se que os frutos destes resultados tenham desdobramento para todas as regiões do País e não fiquem concentrados apenas no Sudeste e Centro-Oeste”. 

“No consumo das famílias, o resultado foi decorrente das medidas do governo federal que impactaram a renda: o aumento do Bolsa Família, a valorização do salário mínimo e os reajustes dos servidores em diversas áreas. Além disso, o mercado de trabalho vem apresentando enorme progresso com redução significativa na taxa de desemprego, que está nos menores níveis dos últimos dez anos”, avalia a economista.

Ana Cláudia Arruda, conselheira federal