Dados do IRPF evidenciam aumento da desigualdade

Autor do estudo, economista Sergio Gobetti (pesquisador do IPEA e assessor econômico da SEFAZ-RS) participará de debate no Cofecon no dia 14 de março. Evento acontecerá às 14:30, em formato híbrido 

Quando se fala da economia brasileira, uma das características negativas mais marcantes é a elevada concentração de renda. Diversos relatórios de instituições privadas ou organismos multilaterais colocam o Brasil entre os países com maior concentração de renda no mundo. 

Um dos principais estudiosos da concentração de renda no Brasil é o economista Sergio Gobetti, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e assessor econômico da SEFAZ-RS. Ele participará de um debate promovido pelo Cofecon no dia 14 de março, às 14:30, com o tema “Concentração de renda no Brasil: novas evidências reveladas pelos dados do IRPF”. A apresentação será do presidente do Cofecon, Paulo Dantas da Costa, com moderação do conselheiro coordenador da Comissão de Política Econômica do Cofecon, Heric Santos Hossoé, e comentários do conselheiro Antonio Corrêa de Lacerda. 

O evento terá transmissão pela internet e as inscrições podem ser feitas gratuitamente AQUI.  Poderão participar até 50 pessoas de forma presencial na sede do Cofecon (Setor Comercial Sul Quadra 02 Bloco B – 5º Andar – Edifício Palácio do Comércio – Brasília, DF). Haverá emissão de certificados para todos os inscritos. 

Estudos sobre desigualdade 

No IPEA desde 2009, Gobetti realizou vários estudos sobre o assunto junto ao também economista Rodrigo Orair. Em 2014 eles produziram um trabalho, inspirados na obra de Thomas Piketty. Concluído num período de três meses, o trabalho foi inscrito no prêmio Tesouro Nacional de Monografias de 2015, obtendo o primeiro lugar. 

“Mais do que simplesmente estudar a desigualdade, como outros colegas faziam, queríamos colocar o dedo na ferida e, por isso, abordar o erro histórico cometido por muitos economistas e políticos brasileiros ao menosprezarem a falta de progressividade no imposto de renda”, comenta Gobetti. “Mais do que isso, relacionar este tema à isenção de imposto de renda sobre lucros e dividendos – o que cunhamos de jabuticaba tributária, visto que, na época, apenas Brasil e Estônia concediam tal privilégio aos recebedores de dividendos”. 

“Mais do que simplesmente estudar a desigualdade, como outros colegas faziam, queríamos colocar o dedo na ferida e, por isso, abordar o erro histórico cometido por muitos economistas e políticos brasileiros ao menosprezarem a falta de progressividade no imposto de renda”, comenta Gobetti.

Dados do IRPF 

Ao pesquisar dados do Imposto de Renda das Pessoas Físicas, divulgados pela Receita Federal, Gobetti observou que a renda dos 5% mais ricos cresceu 51% entre 2017 e 2022, enquanto a dos demais 95% da população cresceu 33%. Estes números se tornam mais impressionantes quando se analisa o crescimento da renda dos 1% mais ricos (67%) e dos 0,1% mais ricos (87%). Significa dizer que os 0,1% mais ricos, que detinham 9,2% da renda nacional em 2017, passaram a deter 11,9% em 2022 (aumento de 2,8 pontos percentuais). Já a participação dos 95% mais pobres decresceu 3,4 pontos percentuais no mesmo período (de 63,5% para 60,1%). 

Os dados também podem ser desagregados por estado. Neste sentido, o principal achado do estudo de Gobetti está no fato de que a renda dos mais ricos subiu mais nos estados em que a economia é dominada pelo agronegócio. Na comparação entre o 1% mais rico e a renda da classe média (representada na pesquisa pelo centil 50), o estado que registra maior desigualdade é o Mato Grosso. 

 

Sergio Gobetti 

Sergio Wulff Gobetti é graduado em jornalismo (1995) e ciências econômicas (2000) pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Possui mestrado (2004) e doutorado (2008) em economia pela Universidade de Brasília. Trabalhou no jornal O Estado de S. Paulo e atuou como assessor especial do Ministério da Fazenda (2010-2012) e secretário adjunto de Política Fiscal e Tributário (2012-2013) dentro da Secretaria de Política Econômica, no Ministério da Fazenda. Foi vencedor de vários prêmios de monografias – entre eles, cinco edições do Prêmio Tesouro Nacional (2006, 2007, 2008, 2010 e 2015).