Conselheiro comenta dados do emprego e mudança nas metas de inflação

O conselheiro federal Fernando de Aquino participou, na última segunda-feira (03), do programa Faixa Livre, que vai ao ar das 8 às 10 da manhã com transmissão pelo Youtube. Entre outros assuntos, o economista abordou a mudança no sistema de metas de inflação e os novos dados do desemprego no Brasil. O vídeo pode ser assistido clicando AQUI

A partir do ano de 2025 a meta de inflação continuará sendo de 3%, com intervalo de 1,5 ponto percentual, mas será uma meta contínua e não mais restrita ao ano-calendário. “A primeira pergunta é se 3% é um bom nível. É uma média das metas praticadas mundo afora. Mas no Brasil, na minha opinião e na de vários, precisaríamos de uma meta um pouco mais elevada em função da inércia inflacionária. Tivemos um período de altíssima inflação, os preços eram reajustados automaticamente pela inflação e isso se mantém até hoje”, explicou Aquino.

Ele vê a introdução da meta contínua como algo positivo. “Para trazer a inflação para a meta dentro daquele ano era preciso desaquecer muito a economia. Com a meta contínua é possível separar mais as coisas”, argumentou. “A inflação vem por dois caminhos. Vem quando a demanda é superior à capacidade de atendê-la, ou vem por choques, com inflação importada ou algum item estratégico que sobe muito. Para esta última o Banco Central não dispõe de meios para combater, mas o governo federal sim. Há a questão dos estoques reguladores, que estão sendo reestruturados; há os impostos de importação e exportação, que podem ser calibrados para compensar aumentos; pode-se investir em formas mais baratas de energia elétrica para não depender só da chuva”.

Consultado se esta mudança no regime de metas reduz a pressão sobe a taxa de juros, Aquino respondeu afirmativamente. “Tivemos um choque de oferta, com a pandemia e a restrição na cadeia de suprimentos, essa guerra que comprometeu os preços dos fertilizantes. O que o Banco Central pode fazer? Aumentar ainda mais os juros. Não é só elevar para deixar a demanda compatível com a capacidade produtiva. Vai elevar mais do que isso, para gerar uma queda na atividade e um aumento no desemprego, de modo a absorver estes choques mais rapidamente. É um nível de juros que prejudica a economia, compromete o investimento e encarece o crédito e não permite que se invista no setor real”.

Outro tema trazido ao debate durante a entrevista foi o desemprego: de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua), no trimestre móvel de março a maio o desemprego foi de 8,3% (menor nível para este semestre desde 2015). “Continuamos com 8,9 milhões de desempregados, e há também 3,7 milhões de desalentados, pessoas que querem trabalhar, mas desistiram de procurar emprego, e 20,7 milhões de subutilizados. Isso somado, temos 33 milhões de pessoas sem uma ocupação digna”, avaliou Aquino. “Precisamos que a economia cresça de modo a gerar emprego para absorver este contingente de pessoas. É uma questão para um prazo mais longo. No curto prazo, foi um bom resultado”.

Aquino comparou os dados com o período de 2012 a 2014 – que, em sua visão, foi um bom período para a economia. “A quantidade de pessoas ocupadas cresceu em relação a este período que já era bom. Cresceu acima do crescimento da população. Absorvemos este contingente”, apontou. “O poder de compra da massa salarial também subiu acima da população. Hoje temos uma massa salarial maior, mas o volume de vendas no varejo não subiu. O crédito ao consumidor está caríssimo em função da taxa de juros. Ela trava os investimentos e o consumo”.

A saída para destravar a economia e o emprego, na visão do conselheiro federal, estaria nos investimentos em infraestrutura. “Temos um forte contingente de construção civil nesse aumento e aprimoramento de infraestrutura. Gera empregos formais, ocupações mais dignas, ao mesmo tempo que melhora as condições para que haja investimentos privados, infraestrutura e mais emprego”, observa. “Isso gera demanda para setores de consumo popular, indústria alimentícia e agricultura familiar, toda uma dinâmica no andar de baixo da economia. Não fica só na produção de bens de luxo para pessoas de alta renda, sem gerar emprego”.

O entrevistador contrastou o anúncio de 364 bilhões de reais para o Plano Safra 2023/2024, enquanto que a verba prevista para o financiamento da agricultura familiar está em 77 bilhões de reais. “O agronegócio se dedica muito à pecuária e soja, produz bastante, mas gera pouco emprego e pouco efeito multiplicador sobre a economia. A agricultura familiar produz bens de consumo alimentícios em grande parte, gerando ocupação para mais pessoas”, comparou Aquino. “Essa montanha de recursos para o plano Safra pode ser importante do ponto de vista político, para garantir a governabilidade, mas do ponto de vista econômica existem alternativas mais interessantes”.

Por último, foi abordado o programa Remessa Conforme, que isenta do imposto de importação as compras internacionais de até 50 dólares. As empresas recolherão outro imposto, o ICMS, de competência dos estados. “Vejo como algo positivo, que isenta de impostos indiretos as compras para uma faixa da população de menor renda. Os varejistas irão reclamar porque querem que as compras sejam feitas nas lojas deles, mas me parece um bom critério”.