A democratização do debate sobre juros e vacinas

Um dos maiores ganhos com a universalização do uso das redes sociais foi a democratização dos debates, antes limitados aos ambientes físicos presenciais, pessoal ou profissional. A conectividade fez com que todo e qualquer tema passasse a ser debatido por grande parte da população.  

Temas antes tidos como técnicos e muitas vezes restritos as divergências apenas entre especialistas, passaram a ser debatidos por grupos de todas as idades e áreas de conhecimento.  

Esse fantástico ganho de participação popular passou a exigir que os especialistas nos assuntos em debate, sejam eles médicos ou economistas, entre outros, passem a se expressar com linguajar cada vez mais acessível, sem perder a consistência dos argumentos, para se fazer entender por todos. 

Outro ganho é que os “especialistas” perderam aquele pseudo poder de encerrar um debate com uma “carteirada técnica” e precisam explicar a lógica, as possíveis causas e consequências envolvidas, como também aceitar a contra argumentação daqueles que muitas vezes são os principais implicados e não são especialistas no tema. 

Temas extremamente técnicos como as Vacinas e os Juros passam exatamente por isso, no caso das vacinas existe a ANVISA, o BUTANTAN, a FIOCRUZ, a classe médica e os laboratórios de um lado, do outro a sociedade como principal implicada. No caso de um vírus novo sobravam narrativas e era impossível existirem pesquisas anteriores. Nesse caso, como leigo, particularmente sigo as orientações do meu médico infectologista e tenho as quatro doses da vacina aplicadas. 

Em relação ao patamar dos juros, como economista considero que a taxa SELIC de 13,75% ao ano deveria ser reduzida, porém o mais grave são os juros praticados no mercado que chegam a custar 60% ou 80% ao ano, em algumas modalidades. 

O Banco Central tem como função principal manter a estabilidade da economia e possui um modelo desenvolvido para fundamentar as suas decisões sobre o patamar da SELIC adequado para se alcançar essa estabilidade, o debate sobre esse tema tão técnico deveria ser se esse modelo está adequado ou se existem alternativas técnicas mais viáveis, e isso não foi feito até o momento. 

Lauro Chaves Neto – Professor da UECE, PHD em Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, Presidente da Academia Cearense de Economia e Conselheiro Federal de Economia.