Economia de Francisco: Lacerda participa de debate na Itália

Uma economia diferente, “que faz viver e não mata, inclui e não exclui, humaniza e não desumaniza, cuida da criação e não a devasta”. Esta foi a proposta do evento Economia de Francisco, realizado na cidade de Assis, Itália, nos dias 22 a 24 de setembro, e que contou com a participação do presidente do Cofecon, Antonio Corrêa de Lacerda, como debatedor na mesa “Os caminhos para um novo pacto educativo e econômico: construindo pontes entre o centro e a periferia”. 

Esta economia, ainda de acordo com o Papa Francisco, precisa “corrigir os modelos de crescimento incapazes de garantir o respeito pelo meio ambiente, o acolhimento da vida, o cuidado da família, a equidade social, a dignidade dos trabalhadores e os direitos das gerações vindouras”. 

Lacerda: “Todas as escolhas envolvem custos e benefícios” 

Lacerda defendeu duas linhas de atuação, sendo uma para o curto prazo e outra para o médio e longo prazos. “A visão de uma sociedade mais justa e solidária necessariamente passa por uma mudança significativa de paradigmas e dogmas fortemente enraizados nas nossas culturas, que têm implicado na exclusão de muitos”, afirmou o presidente do Cofecon. “O rentismo, os superlucros e a concentração no mercado em grandes empresas, inviabilizando os pequenos negócios, exigem medidas imediatas. Uma profunda reforma tributária que taxe os lucros excessivos, as grandes rendas e a especulação dotaria o Estado de mais recursos para a implementação e sustentação das políticas públicas.” 

Lacerda defendeu uma mudança de rumos na política econômica e propôs alguns temas para qualificar o debate. Um deles é a falsa dicotomia entre Estado e mercado. “As boas práticas internacionais e a literatura denotam que o papel do Estado é crucial, mas também o setor privado exerce algo muito relevante para o desenvolvimento das economias. O erro estaria em atribuir somente a um deles esta tarefa, o mercado, como defende a visão neoliberal”, criticou.  

Outro tema mencionado pelo economista foi a aparente, mas falsa, contraposição entre crescimento e desenvolvimento econômico. “O crescimento é uma medida quantitativa, enquanto o desenvolvimento, em sua acepção mais ampla, que envolve as dimensões econômica, social e ambiental, é qualitativo”, argumentou Lacerda. “No entanto, tendo em vista as carências brasileiras, a superação das debilidades e a correção das distorções passa necessariamente por uma nova dimensão de desenvolvimento, na qual o crescimento mostra-se imprescindível.” 

Finalizando sua fala, Lacerda expôs que não existe um caminho único nas escolhas de políticas públicas. “Todas as escolhas envolvem custos e benefícios, que precisam ser explicitados. Daí a importância do debate no âmbito da sociedade. As alternativas de política econômica são técnicas, mas as escolhas são políticas e definem o futuro da Nação.” 

 

Economia de Francisco 

A EoF (sigla do inglês Economy of Francesco) busca alterar a economia atual para a construção da economia do amanhã, com alma que gere vida, humanize e preserve o meio ambiente. Além da juventude empresária, economista, ativistas sociais e acadêmica, todos são convidados pelo Papa Francisco a vivenciá-la como uma vocação.  

Inspirados em São Francisco de Assis e, de modo particular, no Brasil, em Santa Clara de Assis, a EoF avança e inicia processos em diversas áreas, como nas empresas, universidades, igrejas e movimentos sociais. Ela é reconhecida em processos que visam a economia como instrumento humanizador e socializador. 

Originalmente previsto para março de 2020, o evento precisou ser adiado devido à pandemia de Covid-19. Nos dias 22 a 24 de setembro de 2022 a cidade de Assis recebeu dezenas de debates, contando com a presença de mais de mil participantes, na maioria jovens, de aproximadamente 120 países. 

Lacerda (à direita) ao lado de Eduardo Suplicy, que também participou das discussões.
Foto: Tania Teixeira, presidente do Corecon-MG