Raul Velloso e José Luiz Pagnussat debatem retomada dos investimentos

A retomada dos investimentos públicos e o PIB foi o tema abordado pelos professors Raul Velloso, economista com PhD pela universidade de Yale, e José Luís Pagnussat, economista com mestrado pela Universidade de Brasília. “Como é que nós vamos retomar os investimentos e o PIB? O drama é que a taxa de crescimento vem desabando desde os anos 80 e acompanhando de perto a desabada da taxa de investimento em infraestrutura”, afirmou Velloso, iniciando sua fala. “Esse é o nosso drama. Como vamos voltar a crescer sem recuperar os investimentos em infraestrutura? Impossível”.

Ao mostrar um gráfico mostrando os investimentos públicos e privados em infraestrutura (0,7% e 1,1%, respectivamente), Velloso fez um alerta: há no País um viés contrário ao investimento privado. “Se a questão é o investimento público, estamos com uma política, no momento, que simplesmente destrói o investimento público, que é o teto de gastos”, apontou. E comparou a taxa de investimento da União, que era de 16% do PIB em 1997 e que agora é de 2,8%. “A queda já existia sem o teto e passou a existir numa velocidade muito maior.

Para Velloso, a grande questão são os gastos públicos com Previdência e assistência. De 2006 a 2017, a preço constante, o gasto com o regime próprio de Previdência dos estados cresceu 93%; com o Regime Geral de Previdência Social, 79%; com o regime próprio de Previdência da União, 45%; enquanto isso, o PIB cresceu 23% no período. “Este gasto não pode continuar crescendo desta forma. Não posso substituir fortemente o investimento público pelo privado, porque há um viés contrário no país. E a tendência dos deficits, apesar da reforma de regras em 2019, é continuar subindo”. Após mostrar mais gráficos, Velloso concluiu: “não adianta muito querer ajustar os demais itens do orçamento”.

José Luís Pagnussat fez um balanço do que foi feito para retomar os investimentos. “Não podemos chamar de crescimento, estamos voltando a produzir”, iniciou Pagnussat. “Houve um esforço para direcionar recursos para a saúde, cuidar das famílias e das empresas. O auxílio emergencial foi aplicado de forma muito eficiente. Para atender as empresas era necessário garantir o funcionamento do setor financeiro, e daí a necessidade das estatais para garantir as linhas de crédito”.

Ao afirmar que a crise do coronavírus se deu tanto pelo lado da oferta quanto pelo lado da demanda, mostrou que as taxas de juros baixas fizeram com que a relação dívida/PIB não tivesse um crescimento tão elevado. “Peguei várias posições de taxas de juros em diversos países no pré-pandemia, no início, no meio, na segunda onda e hoje. Na maioria dos países, ficou abaixo de 1%, algo em torno de zero”, comentou. “Apenas nove países tiveram taxas acima de 1%”. Em alguns destes países, a inflação está começando a se apresentar novamente.

Pagnussat comparou o endividamento dos países durante a crise do subprime e a crise do coronavírus. Partindo de 2007 até o pico do endividamento e tomando a dívida bruta, ele observou uma média de 35 pontos percentuais. Já na presente crise, a média é de 15 pontos. “Temos mais espaço para endividamento? Não é tão simples assim, uma vez que muitos países estão num nível superior ao dobro de 2007”. Por último, criticou o ambiente de negócios do País.