Ladislaw Dowbor: “Reduzir moderadamente a desigualdade garantiria vida digna a todos”

Desigualdade social e concentração de renda foi o tema abordado por Ladislau Dowbor no XXIV Congresso Brasileiro de Economia. Ele é economista e tem doutorado pela Escola de Economia de Varsóvia. Na abertura de sua fala, mencionou o livro “Une brève histoire de l’egalité” (Uma Breve História da Igualdade), lançado recentemente por Thomas Piketty. Também mencionou as bases de dados World Inequality Database e inequalitylab.world, que permitem ter acesso a mais informações sobre a desigualdade no mundo.

“Em números de 2020, o Brasil está em sétimo lugar em desigualdade no nosso planeta”, informou Dowbor. “Precisamos assegurar uma sociedade economicamente viável, mas socialmente justa e ambientalmente sustentável. Para isso, vemos as empresas discutindo o ESG. Ninguém mais está pensando somente em encher os bolsos dos acionistas”.

Para falar sobre concentração de renda, Dowbor usou números. “Temos no mundo, basicamente, 20 pessoas que têm mais patrimônio do que a metade mais pobre da humanidade, que são 3,9 bilhões de pessoas. Eles têm menos patrimônio do que 20 pessoas que já não sabem mais onde colocar iates”, comentou o economista. “Para o bilionário brasileiro, aparecer na capa da Forbes é a glória. Mas é infantil, porque eles não precisam disso e estão ferrando o país cm essa desigualdade. E conto nos dedos os que fazem alguma coisa. São banqueiros, são acionistas. É o que Zygmunt Bauman chama de capitalismo parasitário”.

Dowbor abordou o conceito de PIB per capita. “Se pegar o PIB mundial e dividir pela população, 88 trilhões de dólares – não cabe na nossa cabeça o que é isso – e dividir por 7,8 bilhões de pessoas, dá 20 mil reais por mês por família de quatro pessoas”, apontou Dowbor. O indicador, usando o PIB e a população do Brasil, seria de 11 mil reais. “Basta reduzir moderadamente a desigualdade para você garantir a todos uma vida digna. É uma escolha política”, completou.

Ainda sobre a situação brasileira, o economista trouxe outra informação da Forbes: em plena pandemia, 42 bilionários brasileiros aumentaram suas fortunas em 180 bilhões de reais. “São seis anos de bolsa-família, que é um programa que atende 50 milhões de pessoas”, comparou. “Aqui, 40 pessoas com a economia em queda, aumentam enormemente suas fortunas e não pagam impostos. É um sistema vergonhoso e insustentável”.

Ao falar dos governos Lula e Dilma como períodos de redistribuição de renda, Dowbor argumentou que o processo não gerou inflação e resultou num crescimento médio de 3,8%. “Quando você põe mais recursos na base da sociedade, aumenta a demanda, e demanda por produtos simples. É fácil expandir a produção”.

Finalizando sua fala, o palestrante defendeu que um imposto sobre o capital parado (como o imposto territorial rural – ITR), se efetivamente aplicado, aumentaria a produção e falou que, com 19 milhões de pessoas passando fome e 116 milhões em situação de insegurança, a sociedade está ameaçada por inimizades internas. “O que a gente produz no planeta permite que todos possam viver de forma digna e confortável. Equilibrar o setor privado e o público é essencial, assegurar estes dois eixos e assegurar a renda básica, pois isso gera demanda e permite expandir o sistema produtivo, gerando recursos para o estado e equilíbrio nas contas públicas”, finalizou.