Otaviano Canuto analisa impactos da pandemia na economia global

O economista Otaviano Canuto, ex-diretor do Fundo Monetário Internacional e ex-vice-presidente do Banco Mundial, realizou a primeira palestra do segundo dia do Congresso Brasileiro de Economia. Ele falou sobre impactos da pandemia na economia global e começou mostrando como os países sofreram as consequências de maneiras desiguais. “É uma crise que começa como crise sanitária que, com ou sem medidas de distanciamento social, tem impacto direto no setor de serviços intensivos em contato físico, lançando ondas de paralisação e queda na atividade econômica”, apontou Canuto.

Ao mostrar os gráficos de recuperação estimada, explicou que ela ainda vai levar algum tempo, por dois fatores: a vacinação e a resposta à crise. Há uma corrida entre a vacina, por um lado, e a disseminação do vírus em suas variantes, por outro. “Ano passado eu chamei a crise do coronavírus como tempestade perfeita para os países em desenvolvimento. Os que dependem do turismo sofreram um choque. Outro fator foram as remessas de renda de emigrantes, que em alguns países contribui com parcela considerável do PIB”, avaliou o economista. “Também houve o impacto nas commodities. A paralisia fez desabar os preços de petróleo. Ainda que a recuperação nos preços tenha sido rápida”.

A tempestade perfeita de que falou Canuto também se mostra no Brasil, onde a crise também é ambiental e energética. E políticas de distanciamento social são mais difíceis de implementar onde uma parcela da população vive em favelas. “Havia políticas para achatar a curva de infecções e outras para achatar a curva da recessão. O que cada economia pôde fazer fez toda a diferença”, argumentou Canuto. “Nas economias avançadas, os pacotes fiscais e parafiscais chegaram a quase 20% do PIB. Na América latina, em média, 8,5%. O México optou por não fazer nada. Isso explica por que o PIB brasileiro caiu 4,1% e o do México 8,2%”.

Entre as consequências da pandemia no mundo, a distribuição de renda tem sido um problema. “Ela afeta a parte de baixo da pirâmide, setores de mão de obra menos qualificada. Outra consequência é uma elevação da dívida pública”, explicou o economista, mostrando outro gráfico.

Outra herança da pandemia é um processo de reversão da globalização. “Essa questão deu vitórias políticas a plataformas de direita na Europa, mas a pandemia acelerou este questionamento. É como se, em vez de mudar a história, a pandemia estivesse acelerando a história anterior. Ela deixa como sequela uma reversão parcial da globalização”, explicou.

E como se daria isso? Uma das formas é o nacionalismo de vacinas. Em vez de pender de insumos da Índia e China, haverá mecanismos de substituição de importações. No Brasil fábricas de carro suspenderam a produção por falta de semicondutores, porque a pandemia afetou a fabricação na Malásia. “Biden não teve problemas para aprovar um pacotaço de 400 bilhões para acelerar a produção de semicondutores nos Estados Unidos”, comentou.

Mas, apesar do nacionalismo, há uma percepção clara de que deve haver ação conjunta entre os países para enfrentar os desafios globais da humanidade. “A percepção sobre a mudança climática mudou bastante durante a pandemia. O ESG, por exemplo, está crescendo e não é por acaso. Não há solução possível para as mudanças climáticas sem uma ação conjunta entre os países. A pandemia acelerou a percepção da gravidade dos desafios globais enfrentados pela humanidade”, finalizou.