Artigo – Política e Mercado

  • 27 de setembro de 2018
  • Artigo

Sempre que eleições se aproximam, um grande debate se estabelece sobre a sintonia dos candidatos com o mercado. Para a grande mídia, a governabilidade depende da bênção do mercado. Os indicadores mais sensíveis ao humor desses agentes econômicos são o comportamento das bolsas e as oscilações cambiais, uma espécie de aviso. Logo se revelam outros sinais, como as taxas de juros a longo prazo.

Pouco importa para a maioria dos analistas a influência que a especulação possa exercer nesses movimentos, ou a própria capacidade de manipulação de suas variáveis; afinal, expectativas tendem a se confirmar.

Os efeitos costumam provocar tantos estragos que chegam a antecipar medidas defensivas, como, por exemplo, aumento das taxas de juros e intervenções no câmbio.

Uma pitada de terrorismo completa o cenário: os investidores se tornarão refratários, haverá fuga de capitais, os recursos externos ficarão mais caros e – é claro – a inflação voltará a disparar.

Nossas autoridades são reféns do apocalipse. Por isso, é proibido alterar as regras centrais do capitalismo periférico; mudanças, só superficiais, a exemplo de políticas compensatórias, que não retirem o País da lista dos 10 mais desiguais do mundo ou da posição de maior concentrador de renda no 1% mais rico, ou, ainda, onde os cinco cidadãos mais ricos detêm o mesmo que toda a metade mais pobre.

Aqui, os 4 maiores bancos controlam quase 80% do crédito, e a taxa de juros real brasileira é a 6ª maior do mundo.

Assim, não é de admirar que todos queiram agradar ao deus mercado, que até já estabeleceu os programas de (qualquer) governo: privatizações, redução do tamanho do Estado e – lógico – reforma da Previdência.

Agora, só falta escolher o candidato que vai realizar esse programa.

Roberto Bocaccio Piscitelli – Professor da Universidade de Brasília