Antônio Lacerda ministra palestra na 669ª Plenária Ampliada do Cofecon

Por ocasião da 669ª Sessão Plenária Ampliada do Cofecon, o ex-presidente da autarquia Antonio Correa de Lacerda realizou uma palestra na qual falou sobre o momento de crise econômica vivido pelo Brasil e as perspectivas para 2016. Lacerda discorreu sobre questões como a política monetária (apontada por ele como o principal problema da economia nacional), o crescimento chinês, a inflação e as oportunidades que o Brasil tem no momento.

Lacerda abriu a palestra afirmando que o segredo da análise econômica está em identificar o verdadeiro problema, para afirmar mais tarde que o Brasil passou o ano de 2015 com o diagnóstico errado. “Vivemos um momento exacerbado de manifestação da opinião. Para o grande público, a economia se restringe às finanças. Eles não levam em conta a macroeconomia ou a microeconomia”, comentou o economista.

Ao questionar se a crise que vivemos é interna ou externa, Lacerda apontou que “do ponto de vista da economia mundial, nós tratamos os efeitos da crise, mas não as causas”. Em seguida falou sobre as taxas de juros em países desenvolvidos no período pós-2008: “os principais Bancos Centrais do mundo reduziram os juros a zero, querendo estimular o consumo e evitar o entesouramento”.

A China vive um momento de menor crescimento econômico depois de passar três décadas com índices acima dos 10%. A redução do crescimento chinês tem impacto nos preços das commodities, afetando países que dependem delas – e Lacerda citou especialmente o petróleo e o minério de ferro. “Nós perdemos US$ 15 bilhões na balança comercial no ano passado só pelo fator preço. Empresas como a Vale e a Petrobrás dependem disso. E, no momento, a Vale está afetada pelo desastre de Mariana e a Petrobrás pela operação Lava Jato”, analisou o ex-presidente do Cofecon.

Todos os casos de sucesso de políticas anticíclicas, lembrou o economista, começaram com um aumento dos investimentos, não com uma redução. Por isso mesmo, criticou o ajuste fiscal: “o que aconteceu em 2015 foi um não ajuste, pelos erros de diagnóstico e de terapia”. E mencionou problemas estruturais, entre eles o câmbio apreciado – e corrigido em 2015 – como fatores que prejudicaram o setor industrial: “A indústria brasileira sofre um problema de longo prazo. Estamos num longo processo de estagnação que remete ao nível de 2007. Não há país que tenha se desenvolvido ou saído da crise sem fortalecer a indústria”.

Mas o problema mais grave, na visão de Lacerda, é a política monetária. “Nós não iremos a lugar nenhum com a política monetária praticada no Brasil”, enfatizou o palestrante. “A política monetária dos últimos 20 anos empurrou as empresas para duas coisas: importação e rentismo”.

Há oportunidades para o país. A relação crédito/PIB, embora tenha dobrado nos últimos dez anos, ainda não está no mesmo nível de países em desenvolvimento. “Mas o crédito ao consumidor no Brasil é algo lunático. Os juros do cartão de crédito chegam a 400%. O grande problema é a Selic. Não é fácil enfrentar isso, é preciso muita competência e o uso correto do instrumental fiscal”, pontuou Lacerda.

Por fim, Lacerda trouxe a questão dos investimentos e mostrou o Brasil como um país atrativo para o investidor produtivo externo. “Precisamos investir mais para sair da crise. E quem vai fazer isso se não for o estado?”, questionou o economista. “Poucos países têm a diversidade e a capilaridade da economia brasileira. Precisamos enfrentar os grandes nós e conhecimento não nos falta”, finalizou.