Cofecon divulga resultados do prêmio Paul Singer; conheça os premiados

Agricultores, catadores e detentas formam os públicos-alvo dos projetos de economia solidária que disputaram o II Prêmio Paul Singer de Boas Práticas Acadêmicas

O Conselho Federal de Economia, em parceria com o Instituto Paul Singer, promoveu em 2023 a segunda edição do Prêmio Paul Singer de Boas Práticas Acadêmicas, uma iniciativa voltada a reconhecer trabalhos de economia solidária na forma de projetos de extensão, preferencialmente em incubadoras universitárias.

Foram inscritos trabalhos de economia solidária em duas categorias, sendo elas Incubação e Assessoramento de projetos. Na primeira, que teve prêmio de R$ 4 mil para o primeiro colocado, o vencedor foi o projeto de “Fortalecimento da autogestão no bairro do Vergel do Lago”, realizado pela Universidade federal de Alagoas. Na segunda, o projeto de assessoramento aos empreendimentos econômicos solidários na Cadeia Pública Feminina de Londrina, no Paraná, promovido pela Cáritas Arquidiocesana de Londrina, obteve a primeira colocação e receberá o prêmio de R$ 6 mil; já o projeto de educação financeira e empreendedora aos produtores familiares, da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP) da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, receberá menção honrosa.

A conselheira federal Teresinha de Jesus Ferreira da Silva é a coordenadora do Grupo de Trabalho de Responsabilidade Social e Economia Solidária dentro do Cofecon. Ela destaca que o Prêmio Paul Singer foi concebido para valorizar as oportunidades de negócio dentro desta filosofia, que tem crescido no Brasil. “Precisamos divulgar nas universidades e entre os economistas que é possível se desenvolver e se inserir no mercado de trabalho a partir de empreendimentos solidários”, comenta Teresinha.

Ela destaca que os projetos apresentados são de excelente qualidade, mostrando que realmente fazem a diferença na região em que estão inseridos e causam impacto econômico positivo.

Conheça a seguir as histórias de empreendimentos solidários que, além de fazerem a diferença em seus locais, estão concorrendo nesta edição do Prêmio Paul Singer.

Fortalecimento da autogestão no bairro Vergel do Lago

Durante a pandemia de Covid-19, um processo de favelização ocorreu na região da orla lagunar de Maceió. Vários catadores de materiais recicláveis buscam seu sustento nas ruas do local, organizando o trabalho em dias específicos, guardando o material de forma conjunta e se juntando para organizar e coletar o lixo fora de um ponto de entrega voluntária. Eles perceberam que era mais difícil enfrentar as dificuldades econômicas e de vulnerabilidade individualmente e criaram a Associação.

A Incubadora de Tecnologia Social (ITS) da Faculdade de Economia da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) intermediou um contato com a Cooperativa dos Catadores da Vila Emater (Coopvila), entidade que participa da coleta seletiva de lixo no município. Eles passaram a trabalhar em rede com a Associação, que ainda carece de maquinários, e realizaram capacitações sobre o trabalho e o processo de produção.

Várias instituições hoje se articulam para dar suporte à Associação. Além da Coopvila, há o Centro de Educação Ambiental São Bartolomeu (CEASB), o Instituto Ideal e a própria ITS. Além disso, o município cedeu um espaço no Ecoponto e o Ministério Público do Trabalho garantiu recursos para adquirir um caminhão, com o qual se faz a coleta seletiva atualmente, aumentando a produtividade.

A partir da organização do trabalho, da produção e da comercialização, a Associação se transformou em Cooperativa, o que lhe permitiu participar da seleção da prefeitura para a realização de coleta seletiva. São 24 cooperados, predominantemente mulheres, com faixa etária entre os 40 e 60 anos, a maioria com ensino fundamental incompleto.

Embora a associação tenha sido criada há pouco tempo, os resultados obtidos na pesquisa de campo realizada pela ITS mostram um trabalho organizativo e institucional com evidências de sustentabilidade. Assim, a economia solidária pode assinalar a construção de um novo espaço de transformação social.

(Re)Começar

O estado do Paraná tem cinco prisões femininas, sendo uma delas localizada no município de Londrina. Ali atua o projeto RE(Começar), promovido pela Cáritas Arquidiocesana de Londrina. A unidade conta com uma escola que oferta aulas que vão de alfabetização ao ensino médio, pátios para banho de sol e visitas, oficinas de artesanato com voluntários e uma cozinha industrial inaugurada recentemente, além de ter dois empreendimentos econômicos solidários.

A maioria dos empreendimentos solidários em unidades prisionais funcionam com detentos do regime aberto ou semiaberto; neste caso, o projeto se diferencia dos demais porque atende 21 mulheres do regime fechado, a maioria com idade entre 20 e 45 anos. Além disso, diferentemente do que ocorre em cadeias masculinas, as instituições prisionais femininas têm um índice muito baixo de visitação: em Curitiba, estima-se que apenas 20% das detentas recebam visitas ou tenham algum contato com a família.

O projeto busca reduzir a reincidência criminal e combater a violência por meio da prática restaurativa. As atividades foram iniciadas em setembro de 2021 com um curso de crochê e de produção de bonecas, chaveiros e ursos. A partir de maio de 2022 a iniciativa passou a funcionar em caráter permanente, produzindo bolsas, bastidores, amigurumi (pequenos bichos de pelúcia feitos de tricô, crochê ou malha), tapetes e artigos para cozinha e banheiro.

A produção é realizada de forma coletiva dentro do espaço da unidade da Cadeia Pública Feminina de Londrina. O espaço utilizado é o pátio da unidade – mesmo local onde ocorrem os banhos de sol. O local é quente e não possui mesas para produção, inviabilizando as atividades em dias de chuva.

Os produtos são comercializados por meio de redes sociais geridas por uma equipe técnica que presta assessoria, bem como em feiras de economia solidária e eventos que acontecem no município, gerando em torno de R$ 350 de renda mensal. Além disso, o índice de brigas dentro da unidade prisional diminuiu e houve uma melhora significativa no comportamento das detentas. Todas elas querem a oportunidade de passar pelo projeto. Elas também repassam seus conhecimentos a outras pessoas, fortalecendo uma rede solidária dentro da unidade e mostrando que é possível recomeçar.

Curso de educação financeira e empreendedorismo

Apesar do grande peso que a agricultura familiar tem na economia brasileira, de várias formas ela ainda está desassistida. Muitos dos agricultores não têm conhecimentos básicos que poderiam melhorar sua produtividade. Outro desafio é fazer com que eles entendam a sua produção como uma atividade econômica.

Muitas destas famílias são compostas por idosos, comunidades tradicionais (indígenas, quilombolas e outros), grupos chefiados por mulheres, assentados e idosos. A Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP) resolveu levar educação financeira aos agricultores, a fim de que estes pudessem melhorar suas finanças pessoais e suas atividades produtivas.

O público-alvo principal é composto por idosos que estão fora do mercado de trabalho, mas os participantes sempre são acompanhados de parentes ou amigos que também participam dos cursos. Além disso, um canal no YouTube atende ao público em geral com o mesmo conteúdo.

O curso de educação financeira e empreendedorismo será ministrado por módulos, sendo um sobre finanças pessoais e empresariais, um segundo sobre empreendedorismo e um terceiro com várias formas de atendimento a clientes, cada um com duração de 12 meses. Os conteúdos podem ser aplicados conforme a necessidade do projeto e as atividades são realizadas de forma remota, por meio do Whatsapp e do YouTube.

O curso tem um papel importante para ensinar técnicas, instrumentos e outros conteúdos aos produtores familiares. O projeto possui caráter de extensão, inserindo os estudantes numa demanda social e integrando a Universidade Federal do Mato Grosso do Sul à sociedade.