Celso Furtado e o método histórico-estrutural: ferramenta para compreender o Brasil contemporâneo

Por Alexandre de Freitas Barbosa

Todos os que tivemos a possibilidade de participar das atividades relacionadas ao Centenário de Celso Furtado, em 2020, tivemos um banho de alma. Num momento em que o Brasil vivencia um discurso e uma prática antidesenvolvimento como nunca antes na história, seu suporte metodológico e exemplo de intelectual engajado servem de ponto de partida para o enfrentamento dos dilemas do Brasil contemporâneo.

Nas atividades de que tenho participado para discorrer sobre Furtado e outros intelectuais de sua geração – tais como Rômulo Almeida, Ignácio Rangel, Helio Jaguaribe, Florestan Fernandes e Darcy Ribeiro – é costume ouvirmos a sua saudação seguida de lamento sobre a falta que eles nos fazem. Esse sentimento de orfandade sugere a necessidade
de novos “gigantes”.

Tenho respondido a esse sentimento genuíno da seguinte maneira: as condições que permitiram a emergência destes intérpretes do Brasil nos anos 1950 já não existem. Eles foram os criadores das nossas instituições estatais e acadêmicas, tendo protagonizado o salto realizado entre 1945 e 1964, durante o Brasil Desenvolvimentista.

Que condições eram essas? Os “intelectuais orgânicos do Estado” e os “intelectuais críticos da academia”², apesar
das suas diferenças, encaravam o processo de desenvolvimento capitalista no Brasil, sob a chave do subdesenvolvimento ou de uma sociedade de classes em formação. A partir de suas posições sociais, teorizaram e procuraram intervir no processo de transformação social.

Vivemos em outro país. A expansão dos cursos de economia e de Ciências Sociais, com as suas pós-graduações,
formaram quadros competentes, apesar de geralmente presos às suas lentes disciplinares. O Estado, por sua
vez, não possui um núcleo orgânico, sendo composto por quadros bem treinados no segundo e terceiro
escalões, com pouca capacidade de influência decisória.

Com extrema lucidez, já em 1985, o próprio Furtado percebia que “a complexidade do sistema econômico,
suas múltiplas formas de vinculação internacional e a maior espessura do tecido social já não permitem pensar
em projetos de engenharia social”.

Para ler a matéria na íntegra, acesse a edição de setembro da Revista Economistas: