Lacerda alerta para riscos da privatização da Eletrobras e Petrobras

O presidente do Cofecon, Antonio Corrêa de Lacerda concedeu, no último dia 25, uma entrevista à Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET), divulgada no canal da entidade no Youtube. O economista abordou a possibilidade de privatização da Petrobras e da Eletrobras, manifestando posição contrária e argumentando que o momento atual é uma oportunidade histórica para inverter o processo de desindustrialização que o Brasil vive.

A pandemia de Covid-19 e a guerra na Ucrânia trouxeram uma quebra nas cadeias produtivas mundiais. O movimento é visto como um refluxo na globalização. “O Brasil deve usar sua experiência passada para construir o futuro. E precisa ter empresas como a Petrobras e a Eletrobras como aliadas. A privatização destas estatais seria trágica para o País”, afirmou o presidente do Cofecon. “A resposta liberal da privatização é um grande engodo, pois na verdade, as privatizações no Brasil têm produzido monopólios e oligopólios privadas”.

Lacerda argumenta que os liberais veem a privatização das telecomunicações como um sucesso, mas ele é um crítico deste argumento e, para ele, a queda nos custos e a facilidade de acesso aos serviços tem outra causa. “Eu atribuo a grande evolução que houve muito mais às mudanças tecnológicas do que à privatização em si”, comenta. “A privatização no Brasil revela falhas gravíssimas de regulação. Nós, consumidores, somos pessimamente tratados pelas operadoras, tanto de telefonia móvel quanto de internet. São oligopólios privados que detêm um poder de mercado terrível, prestam um serviço muito ruim e caro”.

A Petrobras tem estado no centro das discussões econômicas devido à alta dos preços dos combustíveis. Para Lacerda, a atual política de preços atende apenas aos acionistas. “A matriz de custos do Brasil é desfavorável para as empresas e para os consumidores. Além do impacto direto no preço do gás de cozinha e do combustível, também há o impacto indireto sobre os alimentos”, comentou Lacerda. “Não só porque eles são transportados por via rodoviária, mas também devido ao braço da Petrobras que atua em fertilizantes, e tivemos uma perda grande agora com todo esse processo. Falta uma estratégia, uma visão de política industrial que utilize o petróleo como elemento de desenvolvimento do Brasil”.

Tanto a Petrobras quanto a Eletrobras, argumenta Lacerda, têm uma função de planejamento e política industrial. “A privatização não apenas não resolveria os problemas, como criaria outros. Na mão do estado há algum controle social sobre a ação das empresas – o que não vem acontecendo na Petrobras porque houve a captura da empresa por interesses privados de fundos, de investidores, e que atuam em benefício próprio em detrimento da sociedade”, questiona o economista. “Precisamos transformar a Petrobras numa empresa energética sustentável. Isso pressupõe uma política pública”.

Tendo a Petrobras e a Eletrobras como empresas públicas, Lacerda vê a possibilidade de construir não apenas políticas industriais, como um novo arcabouço de políticas macroeconômicas voltadas para o desenvolvimento. “Hoje as políticas macroeconômicas estão muito voltadas para o curto prazo. Temos bons conhecimentos, tanto na área técnica como na área econômica”, pontua o presidente do Cofecon. “O desafio será construir as bases políticas para viabilizar esta grande transformação. E, por outro lado, existe o fator favorável que é a expectativa da sociedade brasileira de uma redução no custo de vida, gerando empregos e renda. Este pode ser um elemento muito importante para conduzir o País no caminho do desenvolvimento”.

A entrevista pode ser assistida clicando AQUI.