Lacerda na Rádio Bandeirantes: cenário econômico para 2022 em pauta

No último sábado, 29, o presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Antonio Corrêa de Lacerda, foi o entrevistado do programa Jornal Gente, da Rádio Bandeirantes, para falar sobre o cenário econômico do país e as perspectivas da inflação para o ano de 2022. O programa foi comandado pelos jornalistas Cláudio Humberto e Agostinho Teixeira. A entrevista aconteceu ao vivo e você pode conferi-la na íntegra no vídeo abaixo:

Questionado sobre previsões de redução da inflação em 2022, Lacerda caracterizou a alta de preços em 2021 como consequência de um choque de oferta e da desvalorização cambial. “Nós estamos sem vetores para o crescimento da economia em 2022. Não haverá uma pressão de demanda que justifique uma elevação da inflação. Também alerta que os preços internacionais podem continuar subindo, mas não na mesma proporção de 2021”. Com isso, em 2022 o real pode, inclusive, ter valorização em relação ao dólar. Embora possamos ter volatividade em função do ano eleitoral.

Lacerda comentou que talvez tenhamos uma inflação entre 5% e 6% em 2022. “Isso é bom ou ruim? É bom porque os preços não estarão subindo no mesmo nível de 2021. Mas vale lembrar que inflação em queda não é preço em queda. Significa que os preços vão continuar subindo, mas num ritmo menor”, afirmou o presidente do Cofecon. “Já temos um nível de preços muito elevado e isso pressiona ainda mais a capacidade de crescimento da economia. O poder de compra das pessoas fica muito restrito”.

O jornalista Agostinho Teixeira pontuou os maiores “fantasmas” na economia brasileira, que são o preço do combustível e da energia elétrica, e questionou como o governo pode interferir nos setores essenciais de forma benéfica para a população. Lacerda sugere que é necessária uma política ampla e geral de preços e tarifas. “É preciso ir além de atender aos acionistas das empresas fornecedoras e, tendo em vista que é um insumo básico, criar mecanismos de formação de preços que também deem maior estabilidade, maior condição de oferecer um preço mais justo e mais acessível para as pessoas”. O presidente do Cofecon afirma que isso é possível de ser implementado, pois há estudos e práticas internacionais eficazes acerca do assunto.

Ao abordar a iniciativa privada e órgãos estatais, Lacerda explica que quando se trata de monopólios naturais, como é o caso da Petrobrás, o Estado tem que definir a  regulamentação dessas empresas no mercado. “A privatização é uma falsa solução. Isso vale para a Petrobrás, vale para Eletrobrás, vale para todas as empresas estatais. O Estado eventualmente pode, sim, vir a abrir mão de ser operador em alguma área, mas para isso é preciso construir um Estado regulador, que é ausente no Brasil, ou pelo menos insuficiente. Não existe solução fácil”. Sendo assim, é essencial a criação de agências reguladoras, órgãos de Estado, e não de governo. Também é preciso criar regras que sejam sustentáveis e que garantam a participação do consumidor.

Para encerrar, o jornalista Agostinho Teixeira trouxe dados do IBGE apontando queda do desemprego. Sobre o tema, Lacerda respondeu que o desemprego ainda é muito alto e que a este número é preciso somar os desalentados (pessoas que desistiram de procurar emprego) e de subocupados (que trabalham menos do que precisariam ou do que gostariam). “Esse número total é quase um terço da força de trabalho brasileira, o que é muito grave, não só socialmente, mas também economicamente. Um desempregado a mais é um consumidor a menos. Essas pessoas não puxam a demanda, e a demanda é fundamental para a decisão de investimentos”, analisou o presidente do Cofecon. “Daí a importância de políticas econômicas, de medidas que favoreçam o crescimento da economia, que é o motor da geração de empregos. Só vamos ter uma economia mais estabilizada, com maior participação das pessoas, quando houver crescimento, que deve ser uma das prioridades”.