Lacerda comenta ao vivo notícias do Jornal da Cultura

O presidente do Cofecon, Antonio Corrêa de Lacerda, participou nesta terça-feira (11) do Jornal da Cultura, comentando as notícias veiculadas no programa. Ele abordou assuntos que vão desde a inflação até as negociações de aluguéis, passando pelo ambiente político na América Latina, pela pandemia e pelo possível fim do quadro de bônus demográfico no Brasil.

O primeiro assunto foi a inflação divulgada pelo IBGE e que superou a marca de 10% no ano. “Tivemos os impactos dos preços de alimentos e matérias-primas no mercado internacional, e o Brasil é exportador de muitos destes produtos. Mas os produtores locais tendem a igualar no mercado doméstico o preço praticado no mercado internacional, acrescido da variação cambial”, analisou Lacerda. “Cada um tem sua inflação pessoal. Quando o preço de um automóvel sobe, aqueles que podem comprar têm condições de adiar esta compra. Mas como adiar a compra de energia elétrica, combustível e refeições?”, questionou.

Este quadro, de acordo com o presidente do Cofecon, não pode ser dissociado da situação econômica do Brasil: em crise há muitos anos, com alto desemprego. “É um problema social, econômico, mas também de crescimento futuro. Para 2022 existe até o risco de uma recessão. Os salários não estão acompanhando essa inflação”. Lacerda aponta que em 2022 a inflação ficará num patamar mais baixo. “Mas inflação em queda não é preço em queda. Significa que os preços estarão subindo menos, mas sobre uma base já reajustada. Este quadro dramático perdurará em 2022”. O vídeo pode ser visto AQUI

Ao comentar a notícia que tratava da evolução da pandemia, Lacerda falou sobre a falsa contraposição entre a situação sanitária e a econômica. “O atraso e a má gestão no combate à pandemia prejudicaram a economia brasileira em 2021. Não foram as medidas restritivas, embora elas tenham impacto”, afirmou. “O que nos resta, diante da situação, é acelerar muito a testagem e equipar o serviço médico, porque a demanda vai crescer, e orientar a população quanto à precaução necessária”. O vídeo deste comentário pode ser visto AQUI

Costa Rica, Colômbia e Brasil terão eleições este ano e uma matéria abordou a situação política da América Latina. “O que está por trás da polarização eu interpreto como um rechaço ao neoliberalismo, que esteve presente na maior parte dos países da América Latina e que significa uma fé exacerbada nas forças do mercado. Na maior parte do mundo estamos vendo exatamente o contrário”, analisou o presidente do Cofecon. “Na América Latina há por trás uma questão ideológica, mas ela é de modelo econômico, com maior ênfase no social, no ambiental, nas pessoas. Para isso, não é estado ou mercado, é estado e mercado. Não é mercado doméstico ou abertura, é mercado e abertura. Essa nova composição é necessária e tem dado certo na maioria dos países e tenderá a prevalecer, inclusive no Brasil”. O vídeo do comentário pode ser visto AQUI

Um estudo da FGV mostrou que a janela demográfica pode estar ficando para trás no Brasil. Ela representa uma transição de altas para baixas taxas de natalidade e passa pela transição da estrutura etária, reduzindo a quantidade de pessoas abaixo dos 18 anos e aumentando a população idosa. Ao comentar a notícia, Lacerda foi perguntado se os brasileiros envelheceram antes de enriquecer. “A par da necessidade de enfrentar o bônus demográfico e a perda da produtividade, precisamos reincorporar 30 milhões de brasileiros (desempregados, desalentados e subocupados) ao mercado de trabalho”, argumentou. “É um terço da população economicamente ativa fora do mercado de trabalho. Além de ser um problema social gravíssimo, é também um problema econômico, porque essas pessoas têm baixa capacidade de consumir. Como o mercado vai crescer sem consumidores?”, questionou. O comentário pode ser visto AQUI

Na sequência, ainda sobre o mesmo assunto, o presidente do Cofecon foi consultado se o mercado de trabalho deve mudar sua mentalidade e a forma como trata as pessoas mais velhas. “Os paradigmas presentes do etarismo, que é o preconceito contra o idoso, ou a discriminação de gênero e raça, tudo isso tem que ser superado. Os novos conceitos, que envolvem a questão socioambiental e da diversidade, significa que ninguém vai tachar as pessoas quanto à idade ou origem e sim quanto às competências. E a educação é fundamental”. Ainda sobre a educação, Lacerda tocou num ponto específico: “O tema às vezes é mal abordado no Brasil. As pessoas comentam que pegaram um táxi e o motorista era formado em engenharia e advocacia. O problema é que tem muita gente formada? Não, ao contrário, é o país que não está crescendo e proporcionando estas oportunidades. Mas estas pessoas são alguns milhares, que se contrapõem aos milhões que citei há pouco”. O comentário pode ser visto AQUI

As chuvas que afetam várias regiões do Brasil – e, de forma mais intensa, Minas Gerais e Bahia – também foram tema de uma matéria veiculada no noticiário. “Quando chega a época das chuvas temos rompimento de barragens, as grandes tragédias naturais, entre aspas. Por trás disso há um péssimo dimensionamento e monitoramento da qualidade destas barragens”, criticou Lacerda. “Hoje já temos condições de prever os índices pluviométricos, inclusive detalhadamente por cidade. Mas o mesmo retrocesso que vemos em relação às questões de falta de respeito aos direitos humanos ocorre em relação às grandes causas naturais. Há um descaso no monitoramento da qualidade das barragens, da preservação da população ribeirinha, das nascentes, entre outros aspectos”. O comentário pode ser visto AQUI

O governo criou um comitê contra a Covid-19 para atender os povos indígenas. “Com um atraso de dois anos houve agora uma ação para os povos indígenas, mas sabemos que a atuação do governo federal ao longo dos dois anos de pandemia tem sido uma catástrofe”, avaliou o presidente do Cofecon. Lacerda destacou a atuação do SUS, da iniciativa privada e dos governos estaduais. O comentário pode ser visto AQUI

A última matéria da noite foi sobre o recuo de 1,83% nos preços dos aluguéis e a importância das negociações entre proprietários e inquilinos. Lacerda critica o uso do IGP-M para a correção dos preços. “O índice sofre influência da variação cambial, dos preços dos atacados, coisas que não têm nada a ver com aluguel”, apontou. “Desemprego em alta, renda em queda e aluguéis subindo é algo que não estava dando certo. O mercado está buscando alternativas, prevalecendo inclusive a negociação. E a melhor negociação é aquela que atende os dois lados. Essa tendência vai continuar, porque não haverá uma mudança substancial em 2022. Tende a prevalecer o bom senso: o proprietário preserva a ocupação do imóvel e o inquilino mantém as condições de moradia dentro daquilo que é possível”. O comentário pode ser visto AQUI