Pensadoras do desenvolvimento econômico e presença das mulheres nas políticas públicas é debatido no XXIV Congresso Brasileiro de Economia

Durante o Fórum de Mulheres Economistas que ocorreu no XXIV Congresso Brasileiro de Economia, se reuniram para debater Izete Bagolin, professora na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul; e Luciana Acioly, doutora em Economia pela Unicamp; Mônica Beraldo, conselheira federal e coordenadora da Comissão Mulher Economista. O tema da primeira etapa do fórum foi “Mulheres Economistas Pensadoras do Desenvolvimento Econômico”.

Izete Bagolin trouxe para a discussão dados sobre as contribuições das mulheres economistas nas discussões dos problemas de desenvolvimento econômico brasileiro. “Temas como economia ambiental têm sido do interesse das jovens economistas. Assim como economia da pobreza, economia da educação, mobilidade urbana e bem estar e problemas de migração rural e urbana”.

Usando como base dados do Prêmio Capes Teses e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a economista evidenciou em sua fala que, por mais que apenas 14% dos pesquisadores de Economia do CNPq sejam mulheres, uma boa parte está investigando os problemas de desenvolvimento. “Temos desafios múltiplos e processo crescentes da participação das mulheres na pesquisa e na formulação de políticas públicas que pensam o desenvolvimento econômico”.

Para Mônica Beraldo, esses dados são relevantes em um momento em que a Comissão Mulher Economista está preparando um Censo que visa entender o perfil das mulheres economistas brasileiras. “Nós queremos saber se essas mulheres doutoras, por exemplo, são aquelas pesquisadoras que são graduadas em Economia ou em outras áreas mas têm mestrado e doutorado na área de Economia. Essa é uma amostra importante para o nosso trabalho”.

Luciana Acioly pesquisa o tema de macroeconomia e finanças internacionais. De acordo com ela, essa área tem pouca participação das mulheres atualmente. “Isso é percebido nas reuniões e nos comitês do Fundo Monetário Internacional, embora haja um esforço das instituições para aumentar a presença das mulheres nessas discussões e diminuir esse vão que há entre a participação masculina e feminina”, afirma a pesquisadora.

Na sequência, Nancy Gorgulho, coordenadora da Comissão Mulher Economista do Conselho Regional de Economia de São Paulo apresentou as duas palestrantes do segundo tema do Fórum de Mulheres Economistas que foi “Macroeconomia e o empoderamento das mulheres: a presença das mulheres nas políticas públicas”, Ana Luíza Matos de Oliveira, professora visitante da Faculdade Latinoamericana de Ciências Sociais, e Joana Mostafa, servidora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.

Ana Luíza ao falar sobre gênero, austeridade e presença das mulheres nas políticas públicas ressaltou que a sociedade tem uma divisão sexual do trabalho. “Se o Estado cria poucas creches, poucas instituições de longa permanência para idosos, acaba que é o trabalho feminino gratuito que acaba garantindo que a sociedade fique de pé”. A especialista afirma que essa questão tem uma série de implicações para a inserção das mulheres no mercado formal de trabalho.

“Temos mulheres se inserindo de forma mais informal no trabalho, por tempo parcial, porque elas precisam conciliar aquele tempo com o cuidado com uma criança, com um idoso ou com uma pessoa com deficiência”, explica Ana Luíza. Para ela, isso gera uma grande sobrecarga de trabalho para as mulheres. “A gente pode falar de uma dupla ou tripla jornada de trabalho nestes casos se formos juntar tudo.”

Joana Mostafa explica que o Brasil vai sair mal da pandemia justamente porque entrou mal na pandemia. “Estamos sofrendo uma onda conservadora que fez uma aliança com as demandas neoliberais e isso afundou o país na maior crise política desde os anos 60”. Para a especialista, não houve família que não tenha sentido essa crise no dia a dia.

“Com a queda da presidenta Dilma se iniciou uma desconstrução dos direitos sociais através de um novo regime fiscal que levou o país para uma crise econômica abissal”, afirma Mostafa. Ela defendeu que nos últimos cinco anos, foram desfeitas as conquistas econômicas e sociais que foram construídas nos 15 anos que precederam este período. “As desigualdades econômicas, de gênero e de raça só pioraram durante a pandemia pois elas já estavam caminhando mal”.

A servidora do Ipea disse que todo esse cenário forçou as mulheres a trabalhar em casa de forma não remunerada, além de ter gerado um maior estresse nas relações familiares, gerando um maior índice de violência doméstica que tem como maior alvo as mulheres. “A economia feminista nos ensinou que todas as atividades como trabalho comunitário, domestico e emocional que estão principalmente à cargo das mulheres não é pago ou é mal pago”.

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