Maílson da Nóbrega vê recuperação lenta, cíclica, baseada em ocupação de capacidade ociosa

O ex-ministro da fazenda Maílson da Nóbrega foi o convidado para falar no XXIV Congresso Brasileiro de Economia sobre cenários macroeconômicos para 2021 e 2022. Ele caracterizou o momento como uma recuperação em marcha, cíclica, baseada na ocupação da capacidade ociosa. “Não deriva de investimentos e ganhos de produtividade. É heterogênea. Só agora a área de serviços começa a ter mais intensidade, porque é um setor que depende do contato pessoal”, comentou Maílson. Ele projeta um crescimento de 5% para o ano de 2021.

Entre os riscos para 2022, apontou a inflação, que deriva de uma combinação negativa de fatores. “O ganho de preços das commodities beneficiaria o balanço de pagamentos e o agronegócio, mas a crise fez com que ocorresse um fenômeno novo, quando um ciclo de commodities não gera valorização de câmbio”, explicou o economista. “O câmbio se depreciou devido à crise fiscal e política. A falta de insumos também afeta a inflação. Tivemos agora o problema climático, que afeta o setor agropecuário, um aumento na percepção de risco e, finalmente, a crise hídrica”.

O Brasil teve um saldo negativo de 1,16 milhão de empregos entre admissões e desligamentos no período de janeiro a junho do ano passado, e um saldo positivo de 1,85 milhão no mesmo período deste ano. “Do lado da PNAD Contínua o efeito não é exatamente este porque ela inclui o mercado informal, que representa hoje mais de 40% da população ocupada”, comentou o palestrante. “O IPCA é o lado negativo do cenário macro, ficará muito acima da meta. O Banco Central ficou atrás da curva. Revimos nossa projeção para 8,2% e já tem gente falando em 9%. Já a taxa de juros vai subir 100 pontos base em setembro e nós prevemos mais duas altas de 100 pontos base este ano. Ela vai tirar gás da recuperação econômica no próximo ano”.

Maílson também fez comentários sobre a relação dívida bruta/PIB, que deve cair no próximo ano para 80,7% por um efeito estatístico. “Se adotarmos a metodologia do FMI, estaremos em 98%. O segundo pior quadro entre os países emergentes, à frente apenas do Egito. E este é o grande desafio dos próximos anos. Que reformas teremos que fazer para reduzir a rigidez que caracteriza o orçamento público na área federal, porque 94% dele são despesas obrigatórias”. Sobre o câmbio, que chegou a 5,31 nesta semana, o ex-ministro argumenta que ele deveria estar em 4,50 e que a depreciação do real reflete os receios do mercado diante do quadro político.

A situação política recebeu comentários negativos. “O risco político/institucional volta ao foco depois dos ataques inacreditáveis do presidente Jair Bolsonaro no 7 de setembro aqui na avenida Paulista. O impeachment volta a ser discutido, embora não seja um cenário provável”, comentou o economista. E terminou avaliando que nos próximos trimestres a atividade econômica seguirá em recuperação devido à vacinação e à normalização gradual das atividades. “Serviços representa 73% da economia brasileira. Inflação, efeitos adversos do clima sobre a produção e risco elevado atuam como limitadores da expansão da atividade. O ambiente político/institucional e o cenário externo mantêm o balanço de riscos do lado negativo”.