Artigo: O desafio do “S” na cultura ESG

As boas práticas ambientais, sociais e de governança, consolidadas como a cultura ESG, sigla que significa Environmental, Social and Corporate Governance em inglês, vêm se disseminando no mundo dos negócios.

Dos três eixos ESG, a governança é a vertente mais familiar no meio empresarial, a área ambiental também ganhou adeptos com iniciativas implantadas, porém a área social é onde ocorrem menos ações, predominando a ideia de que essa é uma responsabilidade essencialmente do poder público.

Esse raciocínio é verdade tanto na visão micro das decisões dentro das empresas, quanto na visão macro para o direcionamento dos recursos dos fundos de investimentos.

Os Fundos Internacionais, a cada dia, reforçam a importância do ESG, porém mantêm recursos em países, cuja atuação é polêmica na área de direitos humanos. Arábia Saudita, Rússia, Egito e China são exemplos claros desse dilema.

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU deviam ser o guia do “S”, porém o seu primeiro enunciado, o de erradicação da pobreza, é tratado subliminarmente por grande parte do setor produtivo e nenhum fundo de investimento o menciona em suas políticas.

O “S” pode e deve receber maior atenção para a obtenção dos resultados esperados da cultura ESG, para isso é possível separar as iniciativas entre aquelas de caráter interno ou externo às organizações.

Externamente é possível usar a expertise para ajudar na elaboração de iniciativas públicas de combate à pobreza e na redução das desigualdades, incluir no seu mix produtos capazes de melhorar a qualidade de vida dos mais vulneráveis e ainda atuar diretamente em projetos sociais.

Internamente, deve-se melhorar as condições e as relações de trabalho, estimular as políticas de inclusão e diversidade dentro e fora das empresas, garantir a privacidade e segurança de dados, promover impacto positivo no seu entorno, além de respeitar os direitos humanos.

O roteiro acima é uma amostra do longo caminho a ser percorrido até que a cultura ESG passe a gerar efeitos positivos e prove que é para valer e não mais um modismo ou marketing no mundo dos negócios.

Lauro Chaves Neto – Professor da UECE, PHD pela Universidade de Barcelona e Conselheiro Federal de Economia. Artigo publicado originalmente no jornal O Povo.