Cofecon debate o pensamento econômico brasileiro e a contribuição de autores históricos
No dia em que a profissão de economista completou 70 anos no Brasil, o Cofecon realizou uma live para discutir a conjuntura brasileira e a questão do desenvolvimento à luz do conhecimento de pensadores econômicos clássicos da literatura nacional e internacional. “Diálogos com Economistas” foi o tema do evento e José Márcio Rego foi o palestrante convidado do Cofecon. O economista é graduado também em Administração Pública, com dois mestrados (Administração Pública e Ciência Política) e dois doutorados (Comunicação e Semiótica Economia de Empresas). É professor aposentado e também empresário. José Márcio Rego é reconhecido pela publicação dos livros Conversas com Economistas Brasileiros e de outras obras, como Em busca do novo: o Brasil e o desenvolvimento na obra de Bresser Pereira. A apresentação do evento foi feita pelo presidente do Cofecon, Antonio Corrêa de Lacerda. A conselheira federal Ana Claudia Arruda Laprovitera foi a mediadora da discussão. Clique aqui para assistir à conversa na íntegra.
Na conversa, José Márcio Rego falou sobre os desafios da economia brasileira diante da atual crise, relatou economistas históricos que influenciaram sua percepção de mundo, além de deixar conselhos relevantes aos economistas e graduandos em Ciências Econômicas. “O economista, como cientista social que é, deve considerar as reflexões dos sociólogos, dos cientistas políticos e de outros profissionais também capazes de interpretar o país. O universitário de Ciências Econômicas precisa conhecer o Brasil. E para entender o Brasil, precisamos analisar, sobretudo, os grandes intérpretes do país, concordando com eles ou não. Um economista bem formado não pode ignorar os conhecimentos de Celso Furtado, de Caio Prado Júnior, de Sérgio Buarque de Holanda, de Alberto Guerreiro Ramos, de Gilberto Freire, de Ignácio Rangel, entre outros. Um bom economista não pode ficar preso a uma perspectiva pouco diversificada”, argumentou José Márcio Rego.
Lacerda ratificou a opinião de José Márcio Rego e destacou a contribuição da obra dos filósofos para a formação do pensamento econômico. O presidente do Cofecon ressaltou que a profissão de economista é historicamente recente e listou algumas particularidades do ofício. “O que diferencia a nossa profissão é a pluralidade. O economista é um profissional que precisa ter uma visão ampla, ter uma gama de saberes diversos. Em nossa formação, estudamos história econômica, a cultura, a história das ideias econômicas e a aplicação disso tudo em métodos quantitativos. Portanto, essa variedade de conhecimentos permite ao economista um arcabouço que o diferencia dos demais profissionais”, ressaltou Lacerda.
O presidente do Cofecon questionou sobre quais as referências históricas inspiraram o trabalho e o conhecimento de José Márcio Rego no pensamento econômico. Rego destacou o aprendizado que teve com Bresser-Pereira, sendo seu aluno no mestrado e no doutorado, além de Celso Furtado e Luiz Gonzaga Belluzzo, com quem aprendeu sobre o pensamento de Keynes. O convidado também mencionou Luiz Antonio de Oliveira Lima, a quem citou como grande referência no campo das relações entre Filosofia e Economia, e Pérsio Arida, com quem mantém um grupo de discussões sobre a conjuntura econômica brasileira há mais de 20 anos. Rego ainda citou três economistas argentinos cepalinos: Raúl Prebisch, Aldo Ferrer e Roberto Frenkel. “Precisamos estar atentos também às ideias procedentes de fontes de fora do “mainstream” acadêmico americanizado”, defendeu.
Fazendo uma análise conjuntural, a mediadora Ana Claudia Arruda Laprovitera citou as dificuldades que o país enfrenta atualmente para superar as recentes crises econômicas e criticou a debilidade da matriz econômica brasileira. A conselheira federal questionou José Márcio Rego e Antonio Corrêa de Lacerda sobre os caminhos para a retomada do progresso diante do atual cenário. “Estamos passando por um período muito ruim e o Brasil não tem um projeto de desenvolvimento. Mas estou otimista com a reversão desse quadro, pois acredito que há boas chances de que o próximo governo trate melhor dessa questão”, respondeu Rego. Lacerda concordou com a opinião do convidado e ressaltou: “O Brasil não está fadado ao fracasso, mas a nossa retomada passa pelas nossas decisões políticas. É preciso fazer boas escolhas. Podemos reverter as tendências de aumento da pobreza e da desigualdade. Temos boas experiências no Brasil que precisam ser resgatadas, preservadas e aprimoradas. Esse é o desafio que se apresenta e o economista terá um papel fundamental nessa retomada”.
Dia do Economista & 70 anos da regulamentação profissional
Em 2021, a Lei 1.411/51, que regulamentou a profissão de Economista e criou o Cofecon, completa 70 anos. Ao longo deste período a autarquia tem sido atuante, cumprindo as atribuições conferidas pela lei e garantindo à sociedade que somente os profissionais habilitados exerçam esta importante profissão. Além disso, o Cofecon também tem manifestado o posicionamento dos economistas nos mais diferentes momentos vividos no Brasil. Ao longo das sete décadas, no papel profissional, atuamos como protagonistas em momentos de crescimento econômico ou de crise, comemoramos centenários, como o de Celso Furtado e o de Fernando Ferrari, contribuímos para redução da desigualdade social por meio de projetos locais e nacionais, desenvolvemos pesquisas, publicamos estudos e livros, crescemos.
Em meio à maior crise sanitária, política e econômica do país, nos fortalecemos para que o Brasil supere esse momento com responsabilidade, cuidando dos mais vulneráveis e apoiando vacina, auxílio emergencial, manutenção de benefícios para os trabalhadores e iniciativas que possam impedir que a desigualdade continue crescendo e maltratando o povo brasileiro.
Como Conselho Profissional e também como profissionais das Ciências Econômicas, temos muito orgulho do nosso papel e com isso, continuaremos unidos, regulamentados e atuantes em prol do desenvolvimento econômico com justiça social.