Artigo – Meio milhão de desempregados no DF

Por Júlio Miragaya – Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável (UnB), ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia. Artigo publicado originalmente no site Brasília Capital.

 

A Pesquisa de Emprego e Desemprego no Distrito Federal (PED/DF) de junho, realizada pela Codeplan/Setrab-DF/Dieese, revelou que o contingente desempregado na Capital Federal chegou a 327 mil pessoas, um aumento de apenas 8 mil em relação aos 319 mil de junho de 2019. Embora elevado, há uma evidente subestimação deste número. Vejamos.

Há um ano, a População em Idade Ativa (PIA) era de 2.440 mil, sendo 800 mil inativos (donas de casa, aposentados, estudantes e os “nem-nem”) e 1.640 mil formavam a População Economicamente Ativa (PEA), que eram os ocupados e os que estavam procurando emprego. Em um ano, a PIA aumentou para 2.484 mil (mais 44 mil), mas os inativos cresceram para 967 mil (mais 167 mil), enquanto a PEA caiu para 1.517 mil (menos 123 mil), causada essencialmente pela redução de 131 mil postos de trabalho, de 1.321 mil para 1.190 mil.

Aqui reside a questão. Dezenas de milhares de pessoas que perderam o emprego ou que já estavam desempregadas, a rigor, não passaram para a condição de inativos, mas simplesmente, por razões óbvias em tempos de pandemia, deixaram de procurar emprego. Em condições normais, mantida a taxa de participação (PEA/PIA) de 67,2%, os inativos teriam aumentado para 814 mil e a PEA para 1.670 mil em junho/2020. Dessa forma, considerando a PED potencial (1.670 mil) e o número atual de pessoas ocupadas (1.190 mil), o contingente de pessoas efetivamente desempregadas no DF chega a 480 mil, 33% maior do que a Pesquisa aponta. E a taxa de desemprego real seria de 28,7%, e não de 21,6%.

E a PED/DF ainda não apura a taxa de desemprego nos 12 municípios do chamado “Entorno Metropolitano”, com população de 1,25 milhão e PEA (potencial) estimada em 700 mil pessoas. Se considerarmos que a taxa seja similar à encontrada no Grupo 4 de RAs (Estrutural, Paranoá, Recanto das Emas…), com nível de renda média semelhante, o contingente desempregado nestes municípios seria de 290 mil, que somados aos 480 mil no DF, totalizaria nada menos que 770 mil desempregados em nossa Região Metropolitana. Uma verdadeira tragédia social.

O mundo está alcançando 20 milhões de infectados e 720 mil mortos, mas os números são baixos e decrescentes nos países que têm estratégias adequadas para enfrentar a pandemia e o contrário nos que têm feito tudo errado, como o Brasil. No momento em que o Brasil atinge 3 milhões de infectados e 100 mil mortos e o DF chega aos 120 mil contaminados e quase 2 mil mortos, qual a lição que deveria ser entendida pelos nossos governantes? Se não debelar ou mitigar a pandemia, não há como normalizar a atividade econômica. A economia continuará afundando, o desemprego aumentando e o povo morrendo.