Artigo – O setor de serviços e a produtividade no Brasil

  • 4 de fevereiro de 2020
  • Artigo

Fernanda Della Rosa – Conselheira Suplente do CORECON SP (2020-2023); Sócia da “Della Rosa Consultores Associados”, Consultoria de Gestão Estratégica de Negócios. Atuou como Economista na Fecomércio-SP por 25 anos, tendo sido Gerente e Diretora da Assessoria Econômica. Trabalhou no Grupo Ultra (Ultragaz) por 11 anos, atuando na área Planejamento Financeiro, Escritora e Autora do livro “Participação nos Lucros ou Resultados – A Grande Vantagem Competitiva”.  Palestrante e Instrutora Educação Financeira e PLR. Educadora Financeira. Perita Judicial Econômico-Financeira. Economista pela USTJ – Universidade São Judas Tadeu, Pós-Graduada em Administração de Empresas pela FAAP e cursou Intensivo de Marketing de Varejo pela ESPM.

 

O setor terciário é um dos setores de elevada relevância na cadeia produtiva. Essa importância, dentre outros aspectos, está relacionada ao seu alto potencial de geração de postos de trabalho. Como importante gerador de empregos, as atividades do setor de serviços geram efeitos de natureza social que impactam diretamente na vida das famílias e da economia do país.

CARACTERÍSTICAS DO SETOR DE SERVIÇOS

Alguns autores defendem que as atividades do setor de serviços seriam aquelas que não se enquadraram nem no setor da indústria, nem da agricultura. Apresenta atividades bem heterogêneas, pois seus subsetores se configuram com características bem diferenciadas. Segundo o PMS – Pesquisa Mensal de Serviços do IBGE, o setor de serviços é composto de subsetores, a saber:

  1. Serviços prestados às famílias
  2. Serviços de informação e comunicação
  3. Serviços profissionais, administrativos e complementares
  4. Transportes, serviços auxiliares e correio
  5. Outros serviços

Algumas características se destacam no setor de serviços. Quando se fala em serviços estamos nos referindo à compra e venda de bens intangíveis, mas necessários às famílias, às empresas e às atividades dos setores públicos.

A mão de obra empregada nesse setor, parte dela tem qualificação específica. Nesse caso se enquadram trabalhadores de algumas atividades, como por exemplo, segmentos de transportes (ferroviários, metroviários, aeroviários), serviços financeiros, atividades imobiliárias, dentre outros. O outro grupo representa atividades com menor qualificação que executa atividades de manutenção e reparação, serviços às famílias e atividades destinadas predominantemente ao consumidor final.

Os salários, em geral são menores e a rotatividade de pessoal costuma ser maior, por conta disso, inclusive. Porém é, sem dúvida, um setor muito importante por empregar grande número de pessoas.

PARTICIPAÇÃO DA MÃO DE OBRA NO SETOR DE SERVIÇOS

O grande potencial de empregabilidade do setor promove a ocupação de um elevado número de postos de trabalho, bem superior àquele absorvido pelo setor industrial. Bem mais interessante é observar que essa diferença aumenta significativamente, no decorrer dos anos.

Um estudo1 que se propôs a analisar a dinâmica do setor de serviços e destaca informações que ilustram essa tendência. Em 1950, 19,1% dos empregos concentravam-se no setor de serviços, 16,4% no setor da indústria e 64,3% na agricultura. Já em 2011 esses percentuais eram 63,7%, 20,1% 16%, respectivamente. Houve, praticamente, uma inversão entre os percentuais dos setores de serviços e agricultura nesse período, tendo a indústria se mantido em percentual semelhante. Boa parte dessa migração pode ser justificada pela inovação e automatização de processos, pela reduzida oferta de empregos no campo versus aumento da oferta de empregos na cidade, principalmente nos grandes centros.

CUSTOS COM SALÁRIO E A QUESTÃO DA PRODUTIVIDADE

Em termos de produtividade, por exemplo, podemos dividir as atividades do setor de serviços em dois grupos: O primeiro grupo apresenta serviços de menor valor adicionado, onde os empregados são remunerados com salários menores e possuem escolaridade reduzida. Além disso, a atividade a ser desenvolvida não requer conhecimento técnico específico. São, por exemplo, serviços de limpeza, zeladoria, lavanderia, dentre outros.

Já o segundo grupo, mais dinâmico, o serviço apresenta maior valor agregado, com remuneração maior, rotatividade em menor grau e com exigência de maior conhecimento técnico específico. São serviços de informação, comunicação e de atividades relacionadas ao setor imobiliário. O valor agregado, nesse caso, tem forte interferência sobre a produtividade do setor de serviços. Podemos citar, por exemplo, serviços turismo, de tecnologia, telecomunicações, educacionais, serviços financeiros, imobiliárias, bancários, de saúde, transportes, e seguros, dentre outros. Estes se caracterizam pelo alto valor agregado e, consequente produtividade elevada.

Importante destacar que as empresas desse segmento de informação e comunicação inventem mais e fazem uso de maior capital e tecnologia para realizar suas atividades. O subsetor de empresas de tecnologia é um bom exemplo dessa prática.

Se compararmos os dois setores, talvez possamos concluir que os serviços prestados pelo segundo grupo contribuem mais para a produtividade do que o primeiro grupo. Assim, em geral, as atividades do grupo mais dinâmico resultam em avanços, que podem promover maior crescimento da economia.

Ainda se falando da produtividade dos dois grupos, observa-se que o salário de ambos cresce em mesma proporção. O custo do salário fica mais oneroso à medida que a produtividade da atividade é reduzida. Atividades que tem custos de mão de obra elevados e baixa produtividade estão sujeitas ao alto risco do negócio, pois a margem vai sendo estrangulada. Da mesma fora o crescimento econômico, para esta fatia de empregos, se ressente por conta desse comportamento.  Se considerarmos que isso ocorre para um conjunto de empresas do setor de serviços, podemos concluir que todo esse grupo pode sofrer a mesma pressão, uma vez que não conseguem repassar preços para o consumidor final, na maioria dos casos.

Em momentos de crise, com elevado desemprego, há forte tendência de aumento do primeiro grupo, que apresenta baixa produtividade. Isso ocorre por conta do grande contingente de pessoas desempregadas que partem para o emprego informal. Diante do alto nível da taxa de desemprego e do reduzido ritmo de crescimento econômico é possível que este grupo venha a crescer mais ainda.

A ELEVADA INFORMALIDADE E O AUMENTO DOS EMPREGOS FORMAIS

Outro estudo2 publicado recentemente veio confirmar esta tese. No terceiro trimestre de 2019 a taxa de desemprego ficou estagnada em 11,8% e representam 12,5 milhões de pessoas3 em busca de emprego. São 38,8 milhões de trabalhadores informais, equivalente a 41,4% da força de trabalho, percentual mais elevado já observado.

Os dados apontam para o crescimento quantitativo do emprego, e não qualitativo. Embora o setor apresente crescimento do volume, a baixa produtividade e a alta informalidade ainda impactam a maior geração de renda. Observa-se reduzido investimento em inovação, equipamentos, capacitação e consequente baixa produtividade. Atualmente, está ocorrendo o aumento do emprego e da massa salarial, mais por conta do aumento de pessoas trabalhando e não pelo aumento real de salários.

Concluindo, o crescimento recorde do emprego informal, predominantemente no setor de serviços de valor não agregado, está prejudicando o aumento da produtividade da economia, pelo menos por enquanto.

EMPREGOS FORMAIS OUTUBRO 2019

Dados do CAGED mostram que, em outubro, foram criados 70,8 empregos formais no país, considerando-se todos os setores. Esta foi a sétima alta consecutiva e, comparativamente, o melhor resultado desde 2017, para o mês de outubro.

BRASIL – SALDO DO EMPREGO CELETISTA – OUTUBRO – 2004 A 2019

Fonte: ME/CAGED

Com os dados de outubro o acumulado ano alcançou a marca de 841,6 mil novos postos formais – para o mês este foi o maior dado desde 2014.

Essa melhora nas contratações pode ser explicada, em parte, pelas novas contratações para o final do ano, que costumam ser realizadas antes do natal. Outros fatores favoráveis são a queda da taxa de juros, a realização da Reforma da Previdência que trouxe mais credibilidade para o ambiente empresarial e a confiança que começa a dar alguns sinais de positividade.

No setor de serviços foi registrado o segundo maior saldo em outubro/2019, tendo alcançado o saldo de 19.123 postos de trabalho com crescimento de 0,11% quando comparado ao mês anterior. As admissões foram de 574.094 e os desligamentos alcançaram 554.971.

ALTAS: Três dos subsetores apresentaram saldo positivo, conforme a seguir:

  • Comercialização e Administração de Imóveis (+14.040)

    Destaque para São Paulo (+5.889) e Minas Gerais (+3.654)

  • Transportes e Comunicações (+4.348 postos)

    Destaque para Santa Catarina (+783) e São Paulo (+707)

  • Serviços Médicos, Odontológicos e Veterinários (+3.953)

    Destaque para São Paulo (+1.794) e Minas Gerais (+851)

BAIXAS: Três dos subsetores apresentaram saldo positivo, conforme a seguir:

  • Instituições de Crédito, Seguros e Capitalização (-2.133)

    Destaque para São Paulo (-786) e Rio de Janeiro (-406).

  • Serviços de Alojamento, Alimentação, Reparação (-942)

    Destaque para Rio de Janeiro (-4.282)

  • Ensino (-143 postos)

    Destaque para Distrito Federal (-343) e Bahia (-230)

 

O quadro completo, com subsetores pode ser analisado a seguir:

O setor de serviços tem expressiva participação no resultado de postos de trabalho gerados, como pode se observar na tabela. No acumulado do ano de 2018, foi registrado saldo de 790.579 empregos. Em 2019, o saldo até outubro é de 841.789, valor que já superou o saldo verificado para o ano anterior. Tanto em 2018 como em 2019, o subsetor de serviços para “Com. e administração de imóveis, valores mobiliários, serv. Técnicos” foi o que apresentou maior destaque.

 

DADOS DE SETEMBRO DO SETOR DE SERVIÇOS

(Receita Nominal e Volume de Serviços)

Em setembro de 2019, último dado referente à Pesquisa Mensal de Serviços – PMS/IBGE, o setor de serviços no Brasil teve crescimento de 1,2% na comparação com o mês anterior.

Quatro atividades se destacam em setembro/19: setores de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio (1,6%); serviços profissionais, administrativos e complementares (1,8%); serviços prestados às famílias (0,8%); outros serviços (0,5%). A única queda foi observada no subsetor de serviços de informação e comunicação (-1,0%), Em relação a setembro de 2018, o volume de serviços subiu 1,4%. O acumulado no ano foi de 0,6%. O acumulado nos últimos 12 meses, foi de 0,7% para o período.

A conclusão final é de que o país está ainda caminhando em passos lentos, na expectativa da retomada do crescimento. A confiança se restaura aos poucos, frente a realizações tão esperadas, mas ainda há muito a ser feito. Para que o setor de serviços possa evoluir em produtividade, se faz necessária a realização de investimentos e de inovação, para que este crescimento seja duradouro. O caminho é longo, mas a direção dá sinais de acerto. E isso já é um bom sinal, depois de um quadro de recessão severa pelo qual o país passou nos últimos anos.

_____________________________________________________________________________

1 Uma Abordagem sobre o Setor de Serviços na Economia Brasileira (INSPER)

2 Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV)

3 Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (IBGE)