Economistas realizam debate sobre banco dos BRICS

Durante a 688ª Sessão Plenária do Conselho Federal de Economia foi realizado, como já é tradicional, um debate econômico. O tema, desta vez, foi o Novo Banco de Desenvolvimento (o banco dos BRICS) e os debatedores foram os economistas Luciana Acioly, pesquisadora da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas do IPEA, e Paulo Nogueira Batista Junior, ex-diretor-executivo do Fundo Monetário Internacional e ex-vice-presidente do próprio banco dos BRICS.

Luciana foi a primeira a falar e iniciou contextualizando a crise financeira de 2008, cuja principal novidade foi o fato de ter seu epicentro nos países desenvolvidos. Havia questionamentos quanto à governança de organismos internacionais como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, onde os países em desenvolvimento possuíam pouca representatividade, apesar de representarem um quinto do PIB mundial em 1990 e um terço em 2008.

No contexto da crise ocorreram várias reuniões do chamado G20, nas quais se discutia como recuperar a economia global da recessão. “A criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) pelo BRICS surge contexto de poucos avanços nas reformas de governança financeira global, discutidas e aprovadas no âmbito do G20 após 2008”, afirmou Luciana. Em 2012 foi proposta a ideia de criar um banco de desenvolvimento, em 2013 foi realizado um estudo de viabilidade e em 2014 anunciou-se o acordo de cooperação.

Em seguida, a economista caracterizou a forma como a decisão foi recebida pela comunidade internacional, caracterizando três grupos diferentes: um deles avaliando como algo necessário e oportuno, canalizando recursos para a economia real; outro grupo avaliou como resultado da busca de objetivos específicos relativos a motivos geopolíticos e econômicos do grupo – em especial, da China; e um terceiro avaliou como uma oportunidade para o estreitamento da cooperação entre os países do BRICS e demonstrar sua insatisfação com a governança financeira global.

Ao falar sobre as diferenças entre este banco e os que já existiam, mencionou três aspectos: um mandato mais claro e enxuto, simetria nas relações de poder entre os membros fundadores e operações focadas em infraestrutura e desenvolvimento sustentável. Mas há vários desafios que precisam ser respondidos – entre eles, a capacidade de alcance global, as dificuldades para expandir a carteira de operações e a estrutura de governança. “O Brasil precisa estabelecer quais são seus objetivos dentro do banco para aproveitar esta fonte complementar de investimento”, afirmou Luciana.

Paulo Nogueira Batista Junior conheceu a instituição por dentro e falou algumas coisas que, às vezes, não aparecem à primeira vista. “O processo de criação não foi liderado pela China e sim pela Índia”, afirmou. O processo de reformas pós-2008 teve início enquanto Dominique Strauss-Kahn esteve à frente do Fundo Monetário Internacional, mas não continuou depois de 2011. “Sem alarde, os BRICS reconheceram que foram ludibriados, e isto foi um terreno fértil para criar o CRA (da sigla Contingent Reserve Arrangement, un fundo monetário dos BRICS) e o NBD”.

Batista destacou que o Brasil teve um papel-chave na criação do banco. Isso porque o projeto, conduzido por Índia e África do Sul, não havia tido avanços significativos, enquanto a criação do CRA, comandada pelo Brasil, estava mais adiantada. “A China participou intensamente, mas não liderou o processo. Quem mais impulsionou foi o Brasil, até a crise final no governo Dilma”, avaliou o economista.

Entre os problemas do banco, Batista apontou que a esperada agilidade na aprovação dos processos ocorre apenas na primeira etapa, mas não na contratação e no desembolso. Embora o banco receba em dia os aportes de capital, e já tenha US$ 8 bilhões em empréstimos aprovados, os desembolsos até agora somam apenas US$ 226 milhões. Além disso, a instituição não se tornou um banco global, permanecendo com apenas cinco países-membros. Entre os aspectos que travam este crescimento, o economista mencionou que a China e a Índia quase chegaram a um conflito armado; a Rússia, devido ao conflito com a Ucrânia, sofre sanções de mais de 40 países e teme que algum país inimigo entre no banco; e a participação do Brasil, após o fim do governo de Dilma Rousseff, foi prejudicada.

E o Brasil é decisivo para o futuro do banco, na visão do ex-vice-presidente. “O próximo presidente será indicado pelo Brasil, em meados de 2020; e já em 2019 o Brasil conduz o processo político do BRICS. O próximo escritório regional do banco será aberto no Brasil, para atender as Américas. O motor dos BRICS era o Brasil”.

Após as exposições, Luciana Acioly e Paulo Nogueira Batista Junior responderam às perguntas dos conselheiros federais, resultando num debate rico e proveitoso. A transmissão pode ser assistida na página do Cofecon no facebook.