Artigo – Retomada ou recaída econômica?

O Brasil passa por uma recuperação lenta após padecer de uma profunda recessão. Desde 1981, o País passou 35% dos trimestres em recessão, provocada por uma série de eventos externos e internos, persistindo, em quase todas as situações, uma má condução dos fundamentos da política econômica. 

Um exemplo recente aconteceu no governo Dilma Rousseff, quando se somaram erros nas políticas monetária e fiscal com a inabilidade política.

Agora, completa-se sete trimestres desde o fim da recessão e o crescimento lento leva à incerteza, e a incerteza leva ao crescimento lento, uma vez que reduz tanto os níveis de investimento quanto os de consumo na economia.

Em um cenário favorável, o novo presidente se comprometeria com as reformas, principalmente com a previdenciária, a tributária e a política, levando ao equilíbrio das contas públicas e a melhoria no ambiente de negócios; enquanto que, no ambiente externo, a estabilização dos juros americanos e elevaria a atração de capitais externos.

Já no cenário desfavorável, não haveria a aprovação das reformas e, muito menos, a retomada dos investimentos; adicione a isso a elevação dos juros americanos, o lento crescimento mundial, a queda no preço das commodities e o aumento no risco econômico dos países emergentes.

De um lado, seria improvável o Fernando Haddad controlar a sua tropa de keynesianos ansiosos para aumentar o protagonismo econômico do governo, mesmo com o déficit primário existente e com o endividamento em mais de 80% do PIB, o que poderia levar a uma depressão cambial seguida de inflação, juros altos e recessão.

Do outro lado, existe um conflito entre o ultraliberalismo do Paulo Guedes e as idéias nacionalistas de Jair Bolsonaro, além da incógnita sobre a maleabilidade do capitão nas inevitáveis e longas negociações com o Congresso Nacional sobre as reformas.

Ambas as alternativas eleitorais apontam o risco de fracasso nas reformas, o que pode levar a um ajuste via arrecadação, quando a experiência mostra que ajustes fiscais focados no incremento da arrecadação em economias fragilizadas, quase sempre, trazem o grande risco de uma nova recessão.

Lauro Chaves Neto – Presidente do Conselho Regional de Economia, consultor, professor da Uece e doutor em Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona.

  • Artigo publicado no Jornal O Povo em 26/10/2018.