Artigo – Desemprego recorde

Não obstante o otimismo de Temer, o candidato com 0,9% das intenções de voto, as perspectivas de retomar o crescimento econômico vão definhando. A promessa de crescer 4% do PIB em 2018 limita-se hoje a 2,0% ou 2,5%, com viés de baixa. Já há, inclusive, quem aposte num crescimento pífio, próximo ao 1% registrado em 2017, o que, em termos de PIB per capita, corresponde a zero.

Se a economia “patina”, as consequências para o mercado de trabalho são aterradoras. Os dados mais recentes da PNAD/IBGE (março de 2018) revelam que o desemprego voltou a crescer, atingindo 13,7 milhões de pessoas, ou 13,1% da PEA. A situação é ainda mais grave quando se considera o chamado desemprego ampliado, a taxa de subutilização da força de trabalho, que inclui desempregados por desalento e ocupados que cumprem jornada de trabalho aquém da que gostariam de cumprir, e que alcançou nada menos que 27,7 milhões de brasileiros no 1º trimestre de 2018.

Trata-se de 11,7 milhões de pessoas a mais do que havia no 1º trimestre de 2014, quando se iniciou a atual crise econômica, e 7 milhões de pessoas a mais em relação ao contingente existente no 1º trimestre de 2016, quando houve a deposição da presidente Dilma e sua substituição por Temer. Deve-se registrar, como agravante, o aumento da informalidade e da precarização nas relações de trabalho, fruto da crise econômica e da reforma trabalhista aprovada no final de 2017.

Embora o desemprego e a precarização do trabalho sejam os mais graves problemas sociais, esses não se limitam àqueles. A persistência do desequilíbrio fiscal levou o governo a promover sucessivos cortes em programas sociais, justamente os voltados para as necessidades da população mais pobre, como o Minha Casa Minha Vida, o FIES, o Mais Médicos, etc. Ademais, promoveu forte redução nos recursos do PAC, afetando os já parcos investimentos em infraestrutura. Resta a pergunta: de onde vem tanto otimismo?


JÚLIO MIRAGAYA, conselheiro do Conselheiro Federal de Economia, foi presidente da autarquia em 2016/17

Artigo publicado originalmente na edição de 24/05 do Jornal de Brasília.