Artigo – Reunião de bacana

  • 21 de dezembro de 2016
  • Artigo

É incrível a frequência com que ocorrem os escândalos de corrupção envolvendo a alta cúpula do governo Temer, nos brindando a cada semana com uma nova denúncia. Mais incrível ainda é assistir a tolerância daqueles que há um ano correram às cozinhas para bater panelas e saíram às ruas com camisas da Seleção Brasileira protestando contra a corrupção. Nos faz refletir se eram mesmo contra a corrupção ou estavam apenas interessados na troca do partido que comandava o governo.

Mas o Brasil não é mesmo um país sério, diz a frase erroneamente atribuída a De Gaulle. É ilustrativo observar que os que estiveram na linha de frente da deposição de Dilma bradando a bandeira da ética e da moralidade (Cunha, Geddel, Serra, Renan) estão, um a um, sendo indiciados ou acusados por atos de corrupção ene vezes mais graves. Agiram como Caifás e os vendilhões do templo. E a grande mídia faz vista grossa.

Ari do Cavaco, notável compositor da Portela, compôs o samba “Reunião de Bacana”, consagrado por Bezerra da Silva, que retrata bem o que se passa na nossa elite política e econômica: “Aqui está reunida toda a nata, senhores, doutores e até magnatas…mas, se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão”.

Nossas “reuniões de bacana” não passam de convescotes de freiras comparadas à reunião do Fórum Mundial de Davos, congregando os homens mais ricos do planeta. Nos belos Alpes suíços, enquanto a nata da elite mundial hipocritamente lamenta que o 1% mais rico do mundo detém riqueza superior a dos demais 99% ou que as oito famílias mais ricas (cabem numa van) possuem riqueza superior a de 3,6 bilhões de pessoas, exatamente a metade mais pobre e miserável da humanidade, buscam ampliar seus lucros extraordinários parasitando ainda mais a economia, mediante a desregulamentação dos fluxos financeiros, a ampliação das isenções tributárias e a retirada de direitos sociais. Para tanto, contam com a reforma previdenciária no Brasil.


Júlio Miragaya – Presidente do Conselho Federal de Economia.