Artigo – Molho inglês

A decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia, tomada em um polêmico plebiscito, além de acentuar a crise econômica europeia, fez surgir muitas dúvidas sobre o destino desta nação que foi o berço de nossa sociedade urbano-industrial. Sua trajetória de maior economia e principal potência imperialista do planeta (até a virada do século XIX para o XX) para a condição de economia decadente e secundária na Europa e força auxiliar do imperialismo norte-americano está na raiz do drama existencial britânico.

A indústria britânica, outrora a principal do mundo, foi praticamente aniquilada. Seu diminuto mercado siderúrgico é controlado pela indiana Acelor-Mittal; seus mercados químico e automobilístico são amplamente dominados pelas corporações alemãs e seu mercado de TI pela indústria norte-americana. Resta a relativa prosperidade do setor financeiro, umbilicalmente associado ao capital financeiro norte-americano.

Maior que a derrocada de seu poderio econômico foi a decadência militar. O glorioso império “onde o sol não se punha” tem se limitado a cumprir o papel de força auxiliar dos EUA em intervenções militares mundo afora (Iraque, Líbia, Síria, Afeganistão, Somália etc). A última experiência militar vitoriosa foi na patética Guerra das Malvinas, em 1982, quando travou duro combate contra a desmoralizada ditadura militar daquele país. Seu esquálido “Império” resume-se hoje a algumas ilhotas no Caribe e no Pacífico e possessões injustificáveis, como as próprias Malvinas (legitimamente argentinas) e Gibraltar (uma afronta à Espanha).

O Reino Unido nem sequer consegue conter suas questões nacionais e sofre a ameaça de desmantelamento, com as inevitáveis separações da Escócia e da Irlanda do Norte. Para piorar as coisas, a nação que criou o futebol e o tornou o esporte mais popular do planeta acaba de ser eliminada da Eurocopa pela pequenina Islândia. Haja decadência!

Júlio Miragaya, presidente do Conselho Federal de Economia