Lacerda: é preciso recuperar o investimento no Brasil

O presidente do Cofecon, Antonio Corrêa de Lacerda, foi entrevistado nesta quinta-feira (05) no programa No Ponto, apresentado pelo presidente do Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (SEESP), Murilo Pinheiro, e transmitido pelo canal do SEESP no YouTube. Lacerda falou do momento econômico vivido pelo Brasil, comentou a elevação da taxa de juros pelo Copom na reunião dia 04/05 e abordou medidas de combate à inflação que vão além do uso da Selic.

Ao abordar a conjuntura, o presidente do Cofecon apontou para algo que chamou de pecado original. “O governo Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes trouxeram uma vertente liberal já superada, de achar que o mercado sozinho resolve todos os problemas. Logo de cara, vários ministérios foram eliminados sob o argumento da racionalização”, pontuou. “Eles foram reunidos no ministério da Economia e perdeu-se a interlocução com a sociedade”.

Ao falar sobre a pandemia de Covid-19 e suas consequências sobre a economia, Lacerda destacou que, se não fosse pela ação dos governos estaduais, as consequências seriam muito mais graves. E, sobre a inflação originada pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia, a resposta tem sido apenas o aumento da taxa de juros – o que ele chamou de “samba de uma nota só”.

Na sequência, Lacerda abordou a situação dos desempregados, desalentados e subocupados. “28 milhões de pessoas estão fora do mercado de trabalho e tantos outras sofrem com a queda em suas rendas – e isso, além de um problema social, é um problema econômico, porque elas ficam fora do mercado de consumo também”, apontou Lacerda. “Além disso, há a deterioração do serviço público e o conflito entre os poderes, geralmente provocado pelo Executivo para tirar o foco da política econômica. Não pode funcionar”.

Em relação à taxa básica de juros, que ontem foi elevada para 12,75% ao ano, o presidente do Cofecon explicou que a taxa é um instrumento que estimula a poupança e desestimula o consumo, e por isso é usada quando há uma inflação causada pelo excesso de demanda. “Não temos excesso (de demanda), temos restrição. Há vários anos a economia patina”, criticou. Para o economista, há efeitos perversos a partir da elevação da taxa de juros: “esfria a economia, significando mais desemprego, mais quebra de empresas, dificulta a vida do endividado e gera um encarecimento brutal no financiamento da dívida pública”.

Para amenizar o impacto dos preços internacionais sobre a inflação, Lacerda defende o uso de instrumentos pelo Banco Central para conter a grande oscilação da taxa de câmbio. “Com uma movimentação tão grande no câmbio, as empresas ficam sem parâmetros para tomar decisões”, argumentou. “Deveríamos ter uma política de abastecimento, com estoques reguladores de alimentos, e uma política mais justa de precificação dos combustíveis. A atual é boa para os acionistas e para a empresa, mas péssima para os consumidores”.

Outra medida necessária para colocar a economia em ordem, na visão do presidente do Cofecon, é resgatar os instrumentos de diálogo com a sociedade. “Não podemos abrir mão de ter um Ministério do Planejamento. Além disso, é inconcebível que um país como o Brasil não tenha um ministério dedicado à produção. A abertura de um canal empoderado para isso é fundamental”, comentou. “É preciso romper com a visão equivocada de que o mercado se autorregula. Precisamos ter a combinação das medidas de mercado com as medidas de coordenação por parte do governo, e trazer as entidades representativas da sociedade civil, com seus respectivos saberes, para a construção de um projeto de nação”.

O presidente do SEESP, Murilo Pinheiro, levantou a proposta de terminar as obras que ficaram paradas, o que Lacerda classificou como fundamental. “Uma economia sem investimentos não reage”, realçou. “Criou-se a narrativa de que o Estado é grande e gasta muito. Na prática, cortou-se os investimentos públicos, que já eram baixos e caíram à metade em proporção do PIB. É fundamental um programa de recuperação do investimento no Brasil, começando pelo público e trazendo junto o privado”.

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