Bancos terão que adotar medidas de educação financeira para clientes

Conselheiro federal Eduardo Reis Araújo falou ao programa Revista Brasil sobre a medida e discutiu questões como inadimplência, crédito consignado e outras políticas públicas

Uma resolução publicada pelo Banco Central determinou que os bancos e instituições financeiras adotem medidas de educação financeira para clientes. O conselheiro federal Eduardo Reis Araújo foi entrevistado pelo programa Revista Brasil, que vai ao ar pelas rádios da rede EBC, para falar sobre o assunto.

“Estamos falando de medidas educativas que vão ajudar os clientes dos bancos a melhorar sua organização e planejamento financeiro e estimular a formação de poupança e a prevenção da inadimplência”, comentou o economista. “Os bancos têm interesse em que os clientes tenham algum tipo de educação financeira porque se a inadimplência se elevar muito, atrapalhará a avaliação de crédito e criará uma obrigação de que a instituição mantenha mais recursos numa reserva de segurança”.

Eduardo chamou a atenção para o fato de que a inadimplência tem crescido no Brasil – mas uma parte deste problema também se deve às condições econômicas. “Temos 72 milhões de pessoas na inadimplência e este número vem crescendo, o que mostra que as instituições financeiras estão preocupadas”, argumentou. “Há evidências de que a educação financeira ajuda a dar mais conhecimento, fazendo as pessoas melhorarem os gastos. Não é um efeito alto, mas é significativo. Mas também vale lembrar que, para as pessoas que têm um nível de renda mais baixo, a educação financeira por si só não resolve. A situação da economia brasileira nos últimos dez anos não tem sido satisfatória. É preciso também políticas que estimulem o crescimento econômico e a geração de empregos”.

Eduardo vê a resolução do Banco Central como positiva, mas ainda um passo muito pequeno. “Nós, economistas, tendemos a orientar as pessoas a utilizar o crédito em casos específicos. Um empréstimo, do ponto de vista financeiro, faz sentido se for investido em algo que trará um retorno maior que a taxa de juros”, explica. “Na prática, não é o que vemos. A maior fonte de endividamento é o cartão de crédito. Quando uma pessoa quer ter informação básica sobre qual é a taxa de juros, nem sempre ela consegue”.

Medidas de educação financeira por parte de instituições de crédito – que, portanto, têm interesse em realizar empréstimos e receber juros – foram comparadas à atuação da indústria do fumo. “As empresas têm autorização para vender, mas precisam exibir no rótulo os malefícios do fumo”, comentou Eduardo. “As pessoas que usam muito estes instrumentos de crédito podem contrair uma doença que é o endividamento, que traz um problema sério para as famílias”.

O conselheiro federal também falou sobre o crédito consignado – e pessoas que recebiam o auxílio emergencial podiam realizar operações de crédito deste tipo: “Entendo que as políticas públicas não deveriam dar esta discricionariedade. Deveria ser algo mais restritivo, não facilitando o uso deste tipo de crédito”. E elogiou a possibilidade de incluir a educação financeira no novo ensino médio. “É mais fácil trabalhar com este conteúdo na base, pensando na formação de crianças. Muitas vezes os alunos veem conteúdos assim na escola, mas em casa encontram pais despreparados. Esta é uma política pública que precisa ser aprofundada”.

A entrevista pode ser ouvida na íntegra clicando AQUI.