XXV CBE: A importância da sustentabilidade para a economia

Mesas de debate do eixo Sustentabilidade trataram dos povos tradicionais, economia solidária e transição energética

Uma das questões mais importantes da economia contemporânea é a sustentabilidade. O modelo econômico vigente precisa ser inclusivo e inserir no mercado de trabalho e de consumo uma quantidade de pessoas que hoje estão fora, respeitando os limites da natureza. Em resumo, precisa ser sustentável. Por isso, a transição energética tem sido um tema importante na discussão econômica, e não foi diferente durante o XXV Congresso Brasileiro de Economia, realizado de 07 a 09 de novembro, em São Luís. O eixo Sustentabilidade também discutiu povos tradicionais e economia solidária.

Sustentabilidade, povos tradicionais e desenvolvimento da Amazônia

O economista Danilo Araújo Fernandes trouxe a ideia de que natureza e cultura não são universos diferentes. “A cultura é fruto de um processo histórico de aprendizado pelo qual a forma de interação homem-natureza determina, em última instância, o caminho tecnológico percorrido”, afirmou. Este princípio pode ser pensado tanto para a produção rural quanto para a indústria. Assim, vemos o desenvolvimento de diversas trajetórias orientadas por dois paradigmas na Amazônia: o agropecuário (paradigma industrialista aplicado ao rural) e o agroextrativista (com conservação e manutenção do bioma). Ele caracterizou algumas destas trajetórias (camponesas e patronais) e mostrou, inclusive, suas localizações em mapas, englobando um período de mais de 20 anos. Danilo mostrou que, tanto do ponto de vista teórico quanto empírico, é preciso aprofundar os conceitos e o entendimento das variáveis de economia. Também apresentou uma visão do território e dos arranjos produtivos locais, defendendo a multiplicidade de atividades econômicas que mantêm a floresta e trazem condições de vida dignas para as populações locais.

A economista Cristina Fróes de Borja Reis, que é subsecretária de Desenvolvimento Econômico Sustentável no Ministério da Fazenda, apresentou algo que classificou como prioritário dentro do ministério: o Plano de Transformação Ecológica. “Ele visa mudar o paradigma tecnológico, produtivo, financeiro, econômico e cultural da sociedade”, comentou. A transformação ecológica tem algumas tendências que foram apresentados pela economista: a bioeconomia, o adensamento tecnológico, a economia circular, a transição energética, a solução dos nós na infraestrutura e as finanças sustentáveis. “Dentro da subsecretaria nós estamos terminando a regulação do mercado de carbono e da taxonomia sustentável brasileira”, informou. Por fim, apontou que este novo paradigma de desenvolvimento tem que ter três objetivos: a geração de trabalho decente e aumento da produtividade; a justiça ambiental; e a redução de desigualdades, inclusive entre territórios.

Economia solidária e sustentabilidade

Carlos Eduardo Soares de Oliveira Júnior, presidente do Sindicato dos Economistas no Estado de São Paulo, destacou a importância do economista no apoio a projetos de economia solidária. “Existe muito campo de trabalho para o economista, seja na consultoria para elaborar projetos, na sistematização de metodologias e na execução dos programas de geração de trabalho e renda”, argumentou. “Alguns acham que é modismo, mas penso que é algo que veio para ficar”. Ele abordou algumas formas de financiamento para estes negócios, tais como rifas, “vaquinhas” ou a atuação de mecenas. “Mas isso não é sustentável no longo prazo”, questionou. Há outras formas como emendas parlamentares, fundações, cooperativas, bancos comunitários, associações, fundos ou parcerias estratégicas”.

O professor Anderson Oriente, economista com mias de 20 anos de experiência em economia solidária, economia popular, economia criativa e gestão de projetos sociais, falou da economia solidária como opção de carreira. “A economia solidária é uma economia com centralidade humana. Tem trabalhadores autônomos, produtores de alimentos, distribuidores, costureiros, inclusive os chamados uberizados, e de certa forma existe possibilidade de cooperação e associação desses trabalhadores. Mas muitas vezes estão na informalidade, de maneira individualizada”, contextualizou. “Os princípios básicos são a autogestão, solidariedade, cooperação em vez de competição, igualdade entre homens e mulheres”. Ele questiona o fato de que federações industriais só são tão fortes porque em algum momento as políticas públicas apoiaram estes setores. “Mas quem mais precisa não tem políticas públicas”, afirmou.

A educadora Potyra Terena trouxe sua experiência e conhecimentos que, afirma com orgulho, “vêm dos meus ancestrais” – conhecimentos que permitem reafirmar seus direitos e estabelecer um lugar no mundo. Ela falou sobre as formas de geração de renda das comunidades indígenas que prezam, acima de tudo, pelo atendimento das necessidades de seus povos. “Nós, indígenas, fazemos economia solidária no nosso território. Fazemos parte de um sistema capitalista, mas produzimos as nossas próprias coisas, com a nossa personalidade. O que fazemos nas nossas terras é autogestão, é economia”, expressou. “Nós estamos no mercado de trabalho e, além de diversas atividades, produzimos o nosso artesanato”.

Renato Dagnino apresentou algumas reflexões. Ele argumenta que as compras públicas representam 18% do PIB, mas que as compras são feitas somente das empresas. “Estão falando em neoindustrialização, em reindustrialização empresarial e créditos para a empresa e nós estamos dizendo: e a economia solidária? Por que essas compras não podem ser feitas junto à economia solidária? Por que somente as empresas devem receber subsídios? Por que as empresas solidárias, as associações, as cooperativas, não podem receber um subsídio estatal?”, questionou. Ele ressalta que o Brasil tem a taxa de juros mais alta do mundo e que isso tem consequências. Colocou também que a neoindustrialização está firmada sobre este pressuposto, mas que o empresário brasileiro não vai inovar. “A neoindustrialização está baseada na ideia de que se a taxa de juros cair, se o empresário for subsidiado, ele vai entrar na quarta revolução industrial, vai se tornar competitivo e agregar valor às commodities. O romance está bem armado. Mas nós temos que perguntar quem é o empresário que vai fazer isso. O uso mais intensivo de tecnologia é das multinacionais, e elas não receberão ordem de ninguém”.

Transição energética e sustentabilidade

Celio Fernando Bezerra Melo falou sobre as potencialidades naturais do Brasil na área das energias renováveis e como elas representam uma oportunidade de desenvolvimento. “Temos que entender que nosso país é expoente no assunto da energia renovável. Mas temos a capacidade de fazer muito mais. Isso depende de um planejamento estratégico de longo prazo. Precisamos ter ousadia para avançar neste sentido e investir nas inovações tecnológicas que estão baseadas no princípio da sustentabilidade econômica, social e ambiental”, defendeu.

O economista Julio Grudzien Neto destacou que a pauta da sustentabilidade é reconhecidamente suprapartidária. “A partir de agora, não existe desenvolvimento que não seja na direção da sustentabilidade. Se não for sustentável, não é desenvolvimento”, argumentou o economista. Ele também defendeu a realização de investimentos na área de energia renovável. Ele mesmo atua na Companhia Paranaense de Energia Elétrica (Copel) e mencionou também alguns desafios para a infraestrutura energética.