Seminário, mesa de encerramento: “Não existe desenvolvimento sem representação e distribuição”

Teresinha de Jesus Ferreira da Silva, mediadora do debate, expressou a importância de lutar por um desenvolvimento econômico que inclua e traga qualidade de vida para todos

A mesa de encerramento do seminário Economia, Formação, Mercado de Trabalho, Gênero e Diversidade contou com a participação das economistas Luciana Acioly e Thais Custodio, com mediação de Teresinha de Jesus Ferreira da Silva, conselheira federal e coordenadora da Comissão Mulher Economista e Diversidade do Cofecon.

“Nossa formação muitas vezes é rotulada como uma formação financista. A última mesa tratou de tantas outras áreas e diversas linhas de atuação”, iniciou Thais. E entrou na questão de desigualdade e raça: “Hoje 54% da população se declaram como negras, me refiro a pretos e pardos, e estes espaços de liderança, de poder, de decisão seguem ainda muito distantes para esta população. Eu poderia listar uma série de pesquisas que dizem por que ainda vivenciamos isso”, explicou.

“Não existe desenvolvimento econômico sem pensar em igualdade de raça”, explicou Thais. “Eu poderia falar de muitos ministérios, em especial o ministério da Igualdade Racial, mas só ter um ministério não vai adiantar de nada. Ele precisa ter uma intersecção com outras pastas ministeriais, inclusive a da Fazenda, a do Planejamento”.

Luciana Acioly, pesquisadora do IPEA e conselheira do Corecon-DF, mencionou o livro “Feminismo para 99%”, de Nancy Fraser. “Tem uma discussão importante que é o feminismo e a agenda libera. Por isso ela fala 99%, um manifesto. Existe uma representação e distribuição na discussão feminista. Representação é estar de fato representado nos vários fóruns, e distribuição é o que diz respeito à economia, não só o crescimento. E ela fala que a representação tem crescido mais que a distribuição”.

“Essa agenda da liberdade de mercado, da redução do estado, é baseada no individualismo e na meritocracia. Eles passam a se ver como meritocráticos, antirracistas, não homofóbicos, juntando a questão econômica com a representação, como se essas pessoas estivessem de fato representadas nesta proposta neoliberal de construir um mercado”, explicou Luciana. “Esse feminismo para 1% foi apropriado pelo mercado, pelas marcas de roupa, mas não aparece, por exemplo, nas condições de trabalho de uma mulher. Esse discurso aparece com o achatamento do orçamento, retirando exatamente as condições para que essa mulher esteja nas estruturas de poder”.

Na agenda liberal, explica Luciana, estas políticas públicas só cabem para 1%. “Conhecendo este país, a dívida histórica que temos com a inclusão, devemos pensar num ponto que a autora coloca, que é juntar as duas agendas: a representação e a distribuição. Não é um o outro, são os dois”, argumenta. “Quando falo da distribuição, falo de salários, condições de trabalho, seguro-desemprego, creches, um pacote de medidas que ajuda e liberta a mulher. Estamos de fato representadas nesta agenda, ou é apenas uma camiseta de mercado?”, finalizou.

A mediadora do debate, Teresinha de Jesus Ferreira da Silva, fez um balanço positivo do seminário e da mesa de discussões. “Debatemos vários temas de extrema importância para avançar nesta questão de gênero, diversidade e raça”, expressou Teresinha. “Desenvolvimento econômico sem representação e sem distribuição não existe. Temos que lutar pelo desenvolvimento econômico, mas colocando todos os agentes e trazendo qualidade de vida para todos”.

A mesa de encerramento do seminário Economia, Formação, Mercado de Trabalho, Gênero e Diversidade pode ser assistida no vídeo abaixo: