Esther Dweck: Estado tem que estar voltado à melhoria da vida da população

Em seminário organizado pelo Cofecon, ministra abordou questões de gênero, papel do Estado, políticas para as mulheres e combate às desigualdades

O seminário Economia, Formação, Mercado de Trabalho, Gênero e Diversidade, realizado no dia 11 de outubro pelo Cofecon, contou com uma mesa especial de debate, com a presença da ministra Esther Dweck. O tema abordado por ela foi “Equidade de gênero e diversidade: impulsionando a inovação e o desenvolvimento econômico”. A mediadora foi a conselheira federal Ana Claudia Arruda.

A ministra destacou que as mulheres, ao escolher uma profissão, dão peso maior às atividades de cuidados ou de serviços sociais, como saúde e educação. Na outra ponta estão as carreiras de tecnologia, com uma participação menor. “As mulheres são a maior parte das graduadas, mas sabemos que isso não se reflete não mercado de trabalho”, comentou. “Participei semana passada da banca de uma orientanda e ela queria ver as mudanças no mercado de trabalho durante o período de crise. Numa grande crise, haverá uma queda de setores industriais, onde a maior parte do emprego é dos homens. Mas olhando de maneira ampla, as mulheres acabam indo para setores com mais baixa remuneração e menor potencial de crescimento”.

Ela também citou o prêmio Nobel anunciado no dia 09 de outubro para a economista Claudia Goldin. “Esse prêmio chama a atenção para um tema importante da economia. Mas, em economia, há no mínimo duas ou três maneiras diferentes de olhar a mesma situação. Ela é da área de economia de gênero, mas existe também a economia feminista, que não naturaliza esta divisão e confronta até com a própria evolução do sistema capitalista”, afirmou a ministra.

Após apresentar alguns gráficos sobre ocupação comparada entre o Brasil e a OCDE, Esther pontuou que a desigualdade salarial entre homens e mulheres é bastante maior no Brasil – mas mencionou que existe uma desigualdade grande também entre as mulheres, e que elas não são um grupo homogêneo. “Se fizermos um recorte de raça, uma mulher negra pode ter um salário 40% menor que uma mulher branca”, afirmou Dweck.

Em seguida, ela apontou para o que chamou de mitos econômicos, e um deles seria o de que a carga tributária no Brasil é maior que a da América Latina. “Há uma diferença muito grande em termos de serviços prestados. Um regime de previdência público, um sistema de saúde universal, a educação mais completa. Isso exige uma carga tributária relevante”, afirmou. “Há também a comparação com a OCDE, carga relevante e serviços de menor qualidade. Quando olhamos para a carga no PIB, não vemos o gasto por cidadão. O valor gasto por cidadão nos países da OCDE é muito superior. Saúde e educação no Brasil chegam próximo em termos de qualidade. Se tivéssemos um gasto por cidadão igual, poderíamos exigir a mesma qualidade”.

No caso específico do seu ministério, que é o da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, a economista destacou a importância da busca pela eficiência. “O Estado tem que estar voltado ao público e à melhoria da vida do cidadão, não preocupado simplesmente em como vai funcionar. E temos uma série de instrumentos para isso”, destacou. “Um dos grandes objetivos deste governo é como reduzir as desigualdades amplas que há no brasil. A de raça, a de renda, na média da população, que são desigualdades históricas que devem ser enfrentadas. Não são naturais, não devem permanecer e geram uma série de prejuízos à sociedade”.

A ministra destacou as expectativas de crescimento econômico para 2023 como um sinal de que o governo está no caminho certo. “Em janeiro a previsão era de 0,83%. Agora é perto de 3%. Houve um aumento de expectativas muito sólido. Temos o desemprego perto do nível de 2014, o aumento da renda familiar e a redução do desmatamento”, argumentou.

Ao falar das políticas para as mulheres, destacou dois programas, que são as escolas de tempo integral e as creches. “Quem tem filhos pequenos sabe o valor disso. Do ponto de vista social, por que há tanta diferença na taxa de participação e desocupação de mulheres negras e brancas? As que têm condições financeiras conseguem terceirizar o cuidado. Escolas públicas e creches são fundamentais para que as mulheres possam participar do mercado de trabalho e sair da condição de violência”, afirmou.

Por fim, ela apontou para o cumprimento de um percentual mínimo de 30% de pessoas negras em cargos de comissão e um mínimo de 8% de mulheres em situação de violência doméstica e familiar em licitações públicas. “O percentual de 30% já foi garantido. Diremos no ano que vem qual é o percentual de mulheres negras que deveriam estar em cargos de comissão”, apontou. “E na questão da violência, uma das formas de sair disso é ter uma alternativa financeira. Usar o poder de compra para dar uma alternativa financeira a estas mulheres”.

A mediadora da mesa, economista Ana Claudia Arruda, elogiou a fala da ministra Esther Dweck. “Estamos numa trajetória de esperança, de enfrentamento das dificuldades e fortalecimento dos valores nacionais. Ela traz um conjunto de linhas de ação estratégica de transformação do Estado brasileiro”, finalizou.

A mesa especial de debates pode ser assistida no vídeo abaixo: