Anúncio do Nobel de Economia ressalta a importância das questões de gênero na economia

Em seminário realizado pelo Cofecon, participantes da mesa de abertura destacam que o anúncio valoriza a importância do tema e dos estudos de Claudia Goldin

O Cofecon realizou no dia 11 de outubro, em parceria com o Corecon-DF e a Universidade de Brasília, o seminário Economia, Formação, Mercado de Trabalho, Gênero e Diversidade. O evento, promovido pela comissão Mulher Economista e Diversidade, reuniu economistas e estudantes para debater questões de gênero.

A mesa de abertura foi composta pelo vice-presidente do Cofecon, Eduardo Rodrigues da Silva; pela professora Olgamir Amancia, representando a reitora da universidade; pelo presidente do Corecon-DF, José Luiz Pagnussat; pela coordenadora do curso de Ciências Econômicas, Daniela Freddo; pela estudante Ayuni Sena, representando o Programa de Educação Tutorial da UnB; e pela conselheira federal e coordenadora da Comissão Mulher Economista e Diversidade do Cofecon, Teresinha de Jesus Ferreira da Silva.

Ao dar as boas-vindas aos estudantes presentes ao evento, o vice-presidente do Cofecon comentou: “Vocês serão aqueles que estarão nesta mesa em breve e darão continuidade a este trabalho que vem sendo construído a décadas e que encontra um respaldo importante em várias instituições”. Disse também que gostaria de ver a Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Economia (Ange) nas mesas de discussões.

Rodrigues também apresentou as funções do Cofecon e vários trabalhos realizados dentro da autarquia, como a Gincana Nacional de Economia, o Guia de Orientação Profissional, o e-book Aplicações da Ciência Econômica, o podcast Economistas, o Descomplicando a Economia e as oficinas de educação a distância. “Trago essas ações que construímos no Cofecon e que ficam disponíveis a toda a comunidade acadêmica e também aos setores não ligados diretamente à economia, mas que têm curiosidade pelo assunto”, finalizou.

A professora Olgamir Amancia representou a reitora da Universidade de Brasília, Márcia Abrahão Moura. “Não é um tema qualquer, diz respeito à maioria da população brasileira. Vivemos numa sociedade que faz um desenho recortado de posições para serem ocupadas pelas mulheres rebaixando seu status”, apontou a docente, que foi Secretária da Mulher no Governo do Distrito Federal entre 2011 e 2014.

“É muito bom podermos ter no ambiente da Universidade um espaço de interlocução que permita alcançar, além do universo interno, a sociedade mais ampla para que o diálogo de temas tão pertinentes possa acontecer”, afirmou Olgamir. “Darcy Ribeiro, fundador desta universidade, certamente comemoraria ao perceber que ela se coloca em movimento para o debate de temas candentes, fazendo com que mais pessoas além dos especialistas entendam este tema”.

O economista José Luiz Pagnussat, presidente do Corecon-DF, mencionou a importância do anúncio, na mesma semana, do nome da economista Claudia Goldin como ganhadora do prêmio Nobel. “É um tema que, em importância, eu compararia somente ao do Amartya Sen, que foi uma premiação pelos estudos sobre a pobreza”, argumentou. “O relatório do Fórum Econômico Mundial sobre raça e gênero mostrava, antes da pandemia, que o Brasil levaria 93 anos para alcançar a igualdade de gênero. Após a pandemia, o mesmo indicador aponta 135 anos. É impressionante a piora nestes temas transversais”.

Pagnussat trouxe alguns dados sobre o Distrito Federal mostrando a piora dos indicadores de acesso da mulher ao mercado de trabalho e a serviços como creches. “Antes da pandemia, 41% das famílias tinham acesso a creches; após a pandemia, este número caiu para 21%, e no caso das classes D e E, este número é de 12%. Como é possível acessar o mercado de trabalho na fase inicial da vida da criança?”, questionou.

A professora Daniela Freddo também comemorou o anúncio do prêmio Nobel para Claudia Goldin. “Esta linda surpresa da Academia Sueca jogou luz sobre o tema da divisão desigual de trabalho entre homens e mulheres dentro e fora do mercado de trabalho”, comentou. “Dentro do mercado elas vivem um paradoxo, têm mais escolaridade e deveriam ter mais potencial produtivo, e mesmo assim recebem salários proporcionalmente inferiores aos homens quando se comparam as mesmas funções”.

“A divisão do chamado trabalho não reconhecido, os cuidados das crianças, dos jovens, dos idosos, os afazeres domésticos, tudo isso tem seu peso recaindo sobre as mulheres. Quando um casal tem um filho com até 3 anos, aumenta a participação dos pais no mercado de trabalho e diminui a participação das mães. O filho seria um impulsionador do homem no mercado e um desestímulo para as mulheres”.

A estudante Ayuni Sena, da comissão de comunicação do Programa de Educação Tutorial (PET-Economia), ressaltou a importância de os estudantes participarem das atividades do Conselho. “Ele é quem vai defender a profissão e integrar a atuação dos profissionais. Já comecei a seguir o podcast e aproveitei para pegar uma grande dica”, comentou.

Ao comentar o anúncio do prêmio Nobel, Ayuni afirmou que “a participação da mulher no mercado de trabalho e o espaço de questões pessoais e reprodutivas é um tema de extrema relevância para a ciência econômica. A maternidade tem um impacto grande, principalmente na vida profissional. Se não tivermos condição de reprodução, teremos dificuldade de existir como espécie e sociedade viável”.

A coordenadora da comissão Mulher Economista e Diversidade do Cofecon, Teresinha de Jesus Fererira da Silva, destacou que o seminário foi organizado em equipe. “Temos que avançar, sair do Sistema Cofecon/Corecons, ir para dentro das universidades e trazer os estudantes para refletir conjuntamente a participação da mulher”, pontuou. “Precisamos avançar nas políticas públicas e este evento tem a conotação de conversar e entender o processo”.

Ela destacou que aproximadamente 25% dos profissionais inscritos no Sistema Cofecon/Corecons são mulheres. “Isso mostra que a desigualdade é grande”, expressou. “É possível construir algo diferente e nos inserirmos de forma diferente. Quem é do curso de economia sabe: quando formamos um bloco, é porque unindo forças nos tornamos maiores”.

A mesa de abertura do seminário Economia, Formação, Mercado de Trabalho, Gênero e Diversidade pode ser assistida no vídeo abaixo: