Novo retrato da população

Artigo de opinião publicado originalmente no jornal Tribuna Independente, pelo economista Marcos Calheiros.

O IBGE publicou recentemente os resultados do Censo Demográfico de 2022. Esta publicação é o retrato dos 5.570 municípios brasileiros, cuja quase metade destes, especificamente 44,8%, tinha menos de dez mil habitantes em 2022. Isso é um claro indicativo de uma concentração demográfica que perdura na história brasileira, mesmo que tenha ocorrido um baixíssimo crescimento populacional. Algumas considerações devem ser levantadas neste primeiro de análise.

Ainda que a população do Brasil tenha somado um total de 203,1 milhões de habitantes — um contingente 6,5% maior que o último Censo de 2010 —, o crescimento médio populacional, de 0,52%, é o menor desde 1872. Ademais, a região Sudeste se manteve como a mais populosa, com 84,8 milhões de habitantes. Nela, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro concentram 39,9% da população brasileira; já o Nordeste, por outro lado, responde por 26,9% dos habitantes do país. Assim, São Paulo continua sendo o estado mais populoso do Brasil, com 44,4 milhões de habitantes, i.e., um quinto da população brasileira.

Além disso, mostraram-se como as três capitais mais populosas do Brasil: São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Em alternativa, salientase que a população de Salvador teve uma queda de 9,6% de seus habitantes, enquanto Manaus cresceu 14,5%. Este alto crescimento demográfico de Manaus foi similar às cidades da região Centro-Oeste.

Apenas João Pessoa, em contrapartida, teve um crescimento mais elevado do que Manaus, no patamar de 15,3%; por outro lado, a quantidade de habitantes de Brasília aumentou 9,6% em dez anos. Alagoas, todavia, é um caso sui generis em todo o país, inclusive no Nordeste: o crescimento de sua população foi o menor de todo o Brasil, aumentando somente 0,21%.

A população alagoana, deste modo, corresponde hoje a 3.127.511 habitantes, dos quais 30,6% estão concentradas em sua capital, Maceió, que conta hoje com 957.916 habitantes. Em segundo lugar vem Arapiraca, com 7,5% da população de Alagoas, correspondendo a 234.696 habitantes, apenas 24,5% do total de residentes em Maceió.

Em outras palavras, embora tenha ocorrido um diminuto crescimento populacional, o perfil de sua concentração demográfica pouco mudou. A priori, percebe-se um maior crescimento populacional dos municípios que circunscrevem a capital, com destaque a Satuba, Paripueira e Rio Largo. Outros municípios próximos também cresceram com maior intensidade relativa, como Pilar, Marechal Deodoro e Barra de São Miguel, no litoral sul, e Barra de Santo Antônio, no litoral norte.

Além disso, é notório o crescimento de municípios que abrigam aportes de investimentos oriundos de polos produtivos e mesmo de setores turísticos, como um processo de atração populacional, destacandose o novo turismo em torno de Maragogi, como Japaratinga, Porto de Pedras e São Miguel dos Milagres. Ao mesmo tempo, os municípios situados mais ao interior nesta região norte perderam contingente populacional.

No Agreste alagoano, apenas Arapiraca, Feira Grande e Craíbas apresentaram crescimento demográfico considerável. Da mesma forma, no Sertão de Alagoas, somente Delmiro Gouveia, Carneiros e Ouro Branco apresentaram este mesmo quadro. Nos demais municípios, o crescimento ou foi extremamente baixo, chegando a ser praticamente nulo, ou foi negativo. Este novo retrato da população brasileira, principalmente da alagoana, traz implicações para a nossa sociedade em curto, médio e longo prazo.

Primeiramente, um menor crescimento populacional acompanhado de cada vez maiores expectativas de vida significa um envelhecimento da populacional, aumentando vertiginosamente a demanda por serviços de saúde. Por exemplo, na área médica, vislumbra-se um maior crescimento de profissionais voltados para a parte idosa. Da mesma forma, os profissionais médicos voltados ao cuidado de crianças deverão, consequentemente, diminuir.

No futuro, poderemos ter sérios problemas em relação a nossa previdência, devido ao envelhecimento da população e à baixa taxa no que diz respeito ao seu crescimento. Um modelo de financiamento por meio da população economicamente ativa tenderá à sua crise num contexto de envelhecimento populacional, pois a massa de população beneficiada, em determinado momento, deverá ser maior que a quantidade de pessoas que contribuam e sustentem tais gastos previdenciários.

O presente Censo Demográfico, portanto, deverá servir prontamente de subsídio para a formulação de novas políticas públicas para o atendimento eficaz e eficiente das demandas das sociedades brasileira e alagoana.