No Eneoeste, Lacerda fala sobre reindustrialização: “Estado e iniciativa privada trabalhando juntos”

Economista abordou também o cenário econômico internacional, ressaltando que ele representa, ao mesmo tempo, um desafio e uma oportunidade para o Brasil

O conselheiro federal Antonio Corrêa de Lacerda realizou na última sexta-feira (07) uma palestra abordando desenvolvimento econômico, sustentabilidade e os desafios no setor industrial. A fala se deu durante o XIII Encontro dos Economistas da Região Centro-Oeste, em Goiânia.

Lacerda iniciou contextualizando o ambiente macroeconômico e apresentou gráficos da evolução do PIB brasileiro, assim como a curva de crescimento da indústria e dos investimentos. “Nosso PIB está basicamente no mesmo nível de 2014. Os investimentos caíram entre 2013 e 2017, mas ainda não retornamos ao nível de 2014. Já o setor industrial teve um mergulho e ainda não voltou”, explicou o economista. “O processo de desindustrialização se intensificou, e isso tem consequências muito grandes para além do setor”.

O Brasil, entre 2019 e 2022, teve um nível de investimentos de 16% do PIB – contra 18% da média da América Latina e Caribe, 22% das economias avançadas, 26% da economia mundial e 33% da média das economias em desenvolvimento. “É um desafio promover a retomada do investimento, de forma sustentável, com reindustrialização, transição energética e inclusão social. Mas ao mesmo tempo, uma oportunidade”, observou Lacerda.

Ao abordar o momento econômico atual, o economista abordou as taxas de juros internacionais em anos recentes. “O que chama a atenção, no caso brasileiro, é o descompasso no fator monetário”, argumentou Lacerda – e reforçou apontando para o custo de financiamento da dívida pública. “Vamos gastar 700 bilhões de reais neste ano só para pagar os juros da dívida. É 10 vezes mais do que investimos”.

A pandemia de Covid-19 e a guerra Rússia-Ucrânia trouxe algumas transformações na economia internacional. “Estamos vivendo um reposicionamento na indústria mundial, não só pela chamada divisão internacional do trabalho, mas também a questão geopolítica associada à guerra, mais os efeitos da pós-pandemia, a transição energética, a indústria 4.0, a nanotecnologia, a internet das coisas, a busca pela economia verde e a descarbonização”, observou Lacerda. “Isso para o Brasil representa um enorme desafio, mas uma tremenda oportunidade. Poucos países têm a autonomia que o Brasil tem nos campos hídrico, energético e de ecossistemas. O processo de reindustrialização do Brasil não deve ocorrer em detrimento das demais atividades”.

O grande tema em questão é a segurança do fornecimento de produtos ou matérias-primas. “Toda a lógica da globalização produtiva pós-anos 90 era baseada na ideia neoliberal de que você não precisa produzir tudo, porque se tiver recursos, adquire de algum fornecedor fora do país. A escassez de vários bens, causada pelos fatores que já citei, faz com que o mundo esteja segredando-se em função da necessidade da segurança de fornecimento. O conceito de globalização produtiva está sendo repensado”, ponderou o conselheiro federal.

Para fazer frente a esta realidade, o governo federal recriou ministérios que haviam sido extintos, além de instituir um novo, o Ministério da Gestão e Inovação. Duas mudanças fundamentais para a economia tramitam no Congresso Nacional: o Novo Arcabouço Fiscal e a reforma tributária. Instrumentos como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial retomam a interlocução com a sociedade. “Foram definidas sete missões do conceito moderno de política industrial, para trabalhar nas áreas de microchips, semicondutores, química, bens de capital e várias outras”. Ele ressaltou ainda que essa reindustrialização com base em energias renováveis, digitalização e inclusão norteará um reposicionamento do país do ponto de vista internacional.

Para fazer esta reindustrialização, será preciso reforçar o papel do Estado no investimento, bem como reformatar as parcerias público-privadas. “Estado e iniciativa privada trabalhando juntos, mediante o papel regulador e fiscalizador, um papel insubstituível do Estado”, apontou Lacerda. “Também precisamos de articulação entre as políticas federais e estaduais. Isso envolve as Secretarias, as agências de fomento. No Centro-Oeste, embora haja predominância agropecuária, há também setores industriais que podemos e devemos integrar, no sentido de agregar valor, não só para gerar mais emprego e renda, mas também mais divisas. Não se trata de escolhas excludentes, mas de intensificar aquilo que é favorável do ponto de vista da nossa competitividade”.

Por fim, ao falar da reforma tributária, o economista apontou que ela pode levar a um reposicionamento interno das cadeias de valor, incentivando a produção no local do consumo. “E, a partir da nova realidade internacional, está sendo construído internacionalmente um reposicionamento da economia brasileira, sem a demonização do Estado, com uso dos instrumentos institucionais, dos bancos públicos para as ações de desenvolvimento, criando um ambiente favorável para os investimentos do setor privado”.