Artigo – Entendendo os Juros

A economia brasileira está desacelerando, mas continua em linha com o estimado crescimento potencial. Estímulos econômicos e dúvidas sobre a política fiscal nesse cenário tendem a complicar o combate à inflação.

É uma realidade que tende para uma política monetária apertada, embora exista a incerteza se isso é suficiente para a inflação voltar ao centro da meta.

Quando a taxa de juros é contracionista, ela contribui para esfriar a atividade econômica tornando o crédito mais caro, o que desestimula o investimento e o consumo. Já com taxas expansionistas, passa a estimular um aumento da demanda.

Em economia existe a estimativa de uma taxa neutra de juros, ou seja, aquela que traria a inflação para a meta e o PIB para o potencial.

Já a taxa efetiva de juros real é a diferença entre a taxa praticada e a taxa neutra, quando ela é positiva (taxa praticada maior que a neutra), ela é contracionista o que desestimula a atividade econômica e ajuda a conter a inflação. Quando ela é expansionista contribui para estimular a atividade econômica e pode favorecer a um aumento da inflação (taxa praticada é menor do que a neutra).

As autoridades monetárias têm sinalizado que apesar da desaceleração da economia, existem outros riscos para o controle da inflação, como por exemplo as questões externas e a situação fiscal. O próprio Ministro Haddad criticou os elevados juros destacando que o Brasil está com uma inflação menor que a Europa e os EUA, porém com o maior juros real do mundo.

A taxa acima da neutra estava estimada em 4,8% ao ano em dezembro de 2022 e hoje é projetada para 5,7% no meio do ano de 2023, o maior nível desde os estimados 6,5% em julho de 2003.

A elevação da taxa real acontece mesmo com a manutenção da taxa SELIC em 13,75% pelo COPOM (Comitê de Política Monetária), já que existe uma redução nas estimativas de inflação nos 18 meses a frente, o que na linguagem dos economistas é chamada de taxa real ex-ante (calculada olhando para frente). A outra forma de calcular a taxa real é a ex-post, ou olhando para trás, mais usada para avaliar os investimentos.

Lauro Chaves Neto – Professor da UECE, PHD em Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, Presidente da Academia Cearense de Economia e Conselheiro Federal de Economia. Artigo originalmente publicado no jornal O Povo.