Governo pode influenciar Eletrobras, diz economista de Lula

Matéria publicada originalmente no Poder360, sobre as propostas apresentadas durante o Seminário de Assessores Econômicos dos Presidenciáveis 2022, realizado pelo Cofecon, Corecon-DF e Fórum pela Redução da Desigualdade Social, em 15 de setembro. 

O assessor econômico da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência Guilherme Mello disse nesta 5ª feira (15.set.2022) que um eventual novo governo do petista não deve reverter a privatização da Eletrobras. Ele defendeu que o governo use a sua participação na empresa para influenciar em decisões estratégicas no sentido de uma transição energética no país.

“Nós não temos nenhum cálculo, nenhuma proposta sobre a ideia de como recomprar. Acho que o governo segue como acionista importante e com isso tem espaço no canal de diálogo com essa empresa que tem um papel estratégico”, disse.

Mello participou nesta 5ª feira de seminário realizado pelo Conselho Federal de Economia, pelo Conselho Regional de Economia do Distrito Federal e pelo Fórum Nacional pela Redução da Desigualdade com economistas dos presidenciáveis em Brasília.

A revisão da privatização da Eletrobras foi defendida por Lula durante o processo de venda da estatal no 1º semestre. O petista também se posicionou contra a venda de estatais nas diretrizes de seu programa de governo.

O documento diz que a companhia “será mantida como patrimônio do povo” para viabilizar programas sociais, como o Luz Para Todos, “e uma política sustentável de modicidade tarifária”.

Em sabatina da CNN Brasil na 2ª feira (12.set.2022), porém, o petista disse não ter falado em rever privatizações. Ele defendeu que é preciso “tomar pé da situação” caso seja eleito para um 3º mandato presidencial.

“Eu não falo em rever privatização. Eu vou ganhar as eleições, preciso tomar pé da situação. Preciso saber que a necessidade primária do país é dar comida para esse povo”, disse.

Para Mello, uma vez concretizada a abertura de capital da empresa e consolidado o processo de privatização, o governo terá participação relevante e poderá influenciar em um processo de transição energética do país. A campanha petista defende que haja uma migração para uma matriz de energia mais limpa.

“Obviamente que, uma vez aberto o capital, tem que avaliar quais são as condições de o governo dialogar com a empresa para ela se constituir como um ativo, uma empresa importante nesse processo de transição energética”, disse.

Com a privatização, o governo passou a ter cerca de 29% das ações da Eletrobras e se manteve como um dos maiores acionistas.

Durante o seminário, Mello afirmou também que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) deve usar as chamadas garantias soberanas para atrair investimentos para o país.

São garantias concedidas pelo Tesouro Nacional a operações de crédito contratadas pelos entes da Federação. Mas, segundo Mello, há a possibilidade de se ampliar para o setor privado também por meio de fundos.

O economista também afirmou que o Brasil está “desligado do mundo” por causa da atual política ambiental. Para ele, a agenda de Lula para o setor ajudará a atrair investimentos estrangeiros. Mello defendeu juros mais baixos para projetos agrícolas sustentáveis.

“Hoje, no plano Safra, não tem diferença para o agronegócio entre os projetos mais sustentáveis e o que não são. Tem que estimular”, disse.

O economista afirmou ainda que Lula manterá a independência do BC (Banco Central), se eleito. Ele avalia que não valeria a pena o desgaste com o Congresso no início do governo para retomar o modelo anterior.

Para Mello, o importante é saber como o governo pode ajudar o BC a atuar em um enfrentamento maior da carestia no país. Lula também já sinalizou nesse sentido.

O assessor econômico também afirmou que a prioridade de um eventual novo governo será manter um auxílio de R$ 600 para a população mais vulnerável, mas destacou que a garantia de pagamento do valor terá de ser negociada com o atual Congresso, ainda neste ano, durante um eventual governo de transição.

O governo federal enviou ao Congresso o Orçamento com a previsão de pagamento de R$ 400 para o benefício. O presidente Jair Bolsonaro (PL), que tenta a reeleição, no entanto, tem dito em sua campanha que irá ajustar o valor até mesmo para R$ 800, mas não indicou se há recursos disponíveis para isso.

Mello também culpou Bolsonaro a culpa pela alta taxa de juros no país. “O governo precisa parar de atrapalhar. Gera risco institucional, democrático, político e gera cenário de incertezas onde se perde oportunidades de investimentos, que poderiam estabilizar o câmbio”, disse.