Principais causas do retorno da inflação no Brasil seguem incólumes

Como enfrentar o drama inflacionário é sempre uma questão relevante para nosso futuro. Embora haja pressões decorrentes da elevação dos preços das commodities

O Brasil se vê às voltas com um velho problema que estava adormecido, mas que retorna com ênfase: a inflação. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE, indicador oficial da variação de preços no Brasil, atingiu 10,25% no acumulado dos últimos 12 meses, com destaque para os subgrupos de expressivo impacto, especialmente para a população de baixa renda: Alimentação no domicílio, com 14,66%; habitação, com 14,00%; e transportes, com 17,93%.

A indexação, ou reajuste automático de contratos com base em índices de variação da inflação passada, prevalece como herança do nosso período de inflação crônica dos anos 1980 e início dos 1990, gerando fator inercial e propagando a inflação.

Como enfrentar o drama inflacionário é sempre uma questão relevante para nosso futuro. Embora haja pressões decorrentes da elevação dos preços das commodities (matérias-primas, petróleo e grãos, por exemplo), o que vem impactando mundialmente a economia e representado um desafio ainda mais expressivo para os países emergentes,há o que possa ser feito domesticamente, ao contrário de algumas das visões correntes:

  • a desvalorização do real e a volatilidade da taxa de câmbio são um fator que pode ser enfrentado com uma atitude mais proativa do Banco Central, tanto no mercado à vista quanto no futuro;
  • os preços administrados, especialmente derivados de petróleo e energia, representam outro foco de pressão. O governo federal pode adotar uma política mais adequada;
  • os oligopólios ainda mantêm grande capacidade de formação de preços domésticos, o que pode ser combatido com medidas de concorrência, via órgãos competentes;
  • o regime de metas de inflação, introduzido em 1999 e em vigor atualmente, tem potencial de melhoria, dadas as distorções apontadas nos itens anteriores.

A elevação da taxa de juros é uma contradição, uma vez que as pressões inflacionárias decorrem de choques de oferta, e não de excesso de consumo. Além disso, ela está elevando custo e as condições de crédito aos tomadores finais, outro fator restritivo da demanda.

A subida dos juros e a busca desenfreada de “ajuste” fiscal a qualquer preço não vão resolver a inflação. Até porque proporcionam elevados ganhos aos privilegiados, enquanto causas relevantes da inflação, como as já apontadas, seguem incólumes.

ANTONIO CORRÊA DE LACERDA É PRESIDENTE DO CONSELHO FEDERAL DE ECONOMIA, PROFESSOR-DOUTOR DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA POLÍTICA DA PUC-SP, É AUTOR DE ‘O MITO DA AUSTERIDADE’ (CONTRACORRENTE).