“Sistema financeiro, que poderia ser propulsor da retomada, está virando um peso”, diz Troster

O papel dos bancos na recuperação da economia brasileira foi o tema debatido por Roberto Luís Troster no dia 08 de setembro. Ele começou sua fala procurando diferenciar os conceitos de recuperação e de retomada econômica, mostrando que os ciclos econômicos vividos pelo Brasil desde 2003 caracterizam sempre uma recuperação, mas nunca uma retomada. Já os ciclos econômicos vividos pela economia mundial apresentam características de retomada. “Observando os ciclos desde 2003, vemos que a capacidade de crescimento econômico do Brasil está caindo”, observou Troster, mostrando uma linha descendente no gráfico. “É diferente do que acontece com o PIB mundial, em que o potencial de crescimento é uma linha reta”, afirmou.

Ao falar da economia como um todo, Troster destacou que o Brasil “precisa se adaptar rapidamente a um ambiente em transformação para não ficar obsoleto”. Mas há entraves de diagnóstico, de projeto, de gestão macroeconômica (“na melhor das hipóteses, discutível”) e de capacidade de execução. “Estamos terminando o terceiro ano de governo e ainda não temos um projeto de reforma tributária”, criticou o economista. “Não existe projeto. O Brasil deste ano e o do ano que vem está dado pela conjuntura. O que queremos ser daqui a 10 anos? É algo totalmente desconhecido”.

O Brasil encontra-se na posição número 124 do ranking Doing Business. Em 30 anos, a participação brasileira no PIB mundial caiu de 4,27% para 2,44%. A relação crédito/PIB é de 63,9% – metade do nível de outros países, como o Chile. E o spread bancário é de 32%, contra uma média de 9,4% em países de renda baixa. E outro problema tipicamente brasileiro é que se tributa mais o crédito (por meio do IOF) do que a riqueza. Para Troster, culpa de uma série de anacronismos. “A tecnologia mudou. Antes o sistema tinha que ser sólido e rentável, com foco no curto prazo. Hoje não vivemos mais na hiperinflação de 30 anos atrás. Precisamos de um sistema bancário focado no longo prazo, estável, inclusivo, inovador, eficiente e globalizador. Um bom redesenho do sistema dará mais inclusão, mais sustentabilidade”. E finalizou: “O sistema financeiro, que pode ser o propulsor da retomada, está virando um peso, está muito aquém do seu potencial”.