Cofecon realizou debate de conjuntura

O Conselho Federal de Economia promoveu nesta sexta-feira (02) um debate de conjuntura econômica, por ocasião da sua 691ª Sessão Plenária. Os palestrantes foram os economistas Carlos Alberto Luque, diretor-presidente da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE), e Fernando Nogueira Costa, professor titular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Luque foi o primeiro a falar e começou mostrando o crescimento da economia brasileira desde 1945, tanto em termos de produto interno bruto (PIB) como de renda per capita, caracterizando um período de alto crescimento até 1980 e outro de baixo crescimento desde então. “Não podemos dizer que é um fenômeno mundial, nem dos países em desenvolvimento. Lamentavelmente é o caso do Brasil. Com este número, nos distanciamos cada vez mais de outros países”, apontou. Clique aqui para conferir a apresentação de Carlos Luque

E por que o Brasil cresce tão pouco? “Um fato que podemos apontar para tentar explicar o desempenho medíocre da nossa economia relaciona-se com a nossa pequena capacidade de investimento”, afirma Luque. “Uma visão que tenho, particularmente, é que o nosso debate econômico é traduzido como alguma coisa macro, mas perdemos a capacidade de uma análise mais setorial ou microeconômica”. Para exemplificar a questão, falou sobre o investimento. “Há diferentes tipos de investimento, e cada um tem uma influência diferente sobre a economia. Investir em moradias populares é importante do ponto de vista social, mas se distingue de um investimento em infraestrutura, que afeta mais a oferta”.

O economista também falou sobre o debate econômico, que até os anos 80 era muito concentrado na inflação. “Apesar disso, havia um papel do planejamento, do desenvolvimento econômico, particularmente a partir do setor público. A partir do Plano Real, que foi um plano de estabilização e não de crescimento, não conseguimos recuperar nossa capacidade de crescimento, e a maioria dos economistas influentes começou a afirmar que todo o problema deriva do governo, do setor público. O setor público virou sinônimo de vício; o privado, de virtude. E ambos têm suas distorções, mas ambos são fundamentais. Precisamos quebrar esta visão de que conseguiremos superar nossos problemas minimizando o papel do setor público e sua relevância para o crescimento econômico”.

Luque caracterizou as taxas de juros praticadas no Brasil nas últimas décadas como o grande vilão, por comprometerem a capacidade de investimento do setor público. “O setor público não vai recuperar o crescimento se não recuperar sua capacidade de investimento, para investir naquilo que é fundamental para o desenvolvimento brasileiro, como infraestrutura e mudanças tecnológicas. Na ata de junho percebemos a economia se desfazendo e o Banco Central procurando motivos para manter os juros, apontando para um cenário internacional que não está claro”.

Luque também falou sobre a crescente influência do setor financeiro no debate econômico. “Na década de 80 havia a Gazeta mercantil. Olhávamos para as páginas do mercado financeiro, era aquela confusão. O Brasil iria acabar. Quando entrávamos nas páginas de indústria, agricultura e serviços, era outro mundo. Havia o mundo do mercado financeiro e o mundo real, que funcionava, com todas as dificuldades derivadas de um país que tinha aquela inflação. Ao longo do tempo o mundo do mercado financeiro foi tomando conta, hoje as notícias são todas desta área”.

Finalmente, falando sobre o quadro econômico atual, o diretor-presidente da FIPE apontou que todos os elementos da demanda agregada estão contidos e com elevada capacidade ociosa. “Deveríamos expandir a demanda agregada”, concluiu.

Em seguida, falou o professor Fernando Nogueira e caracterizou duas formas de pensar a economia, sendo uma pré-keynesiana e outra pós-keynesiana. “Há uma maneira de ver que é mecânica, ação e reação, mecanismos pendulares. A política monetária é vista como simétrica: você sobe os juros, reduz o crescimento. Quando reduz os juros, quer que a economia responda. E não é assim”, comentou. Clique aqui para acessar a apresentação de Fernando Nogueira

O economista caracterizou a economia como parte de um sistema complexo, no sentido de ter interações entre muitos componentes diferentes e contrapôs a Lei de Say e o Princípio da Demanda Efetiva. Desta maneira, caracterizou a economia de autofinanciamento (com recursos próprios) e a economia de endividamento (com recursos de terceiros). “Este é o segredo do mercado de capitais. Trabalhar com capital dos outros. Capitalismo sempre foi financeiro”, afirmou. “A atual equipe econômica não compreende bem. Se você pega o recurso e coloca num ministério, para construir habitação popular, isso é fundo perdido. Se você colocar num banco público, gera retorno. O banco público permite uma alavancagem financeira que o ministério não permite”.

Costa caracterizou o equilíbrio do sistema como algo importante. “Não temos problemas na balança de pagamentos. Hoje o petróleo é o segundo maior produto na pauta de exportações do país. Produzimos 2,5 milhões de barris por dia e especialistas dizem que daqui a 15 anos vamos dobrar a produção. Seremos uma economia de exportação de petróleo. Crise cambial, como tivemos no passado, não temos e provavelmente não teremos. A inflação é muito ligada à taxa de câmbio. A área externa não preocupa, e a inflação está abaixo do teto da meta desde 2005, exceto em 2015.

O professor falou sobre um desequilíbrio interno, mostrando dados de desemprego e renda por classe social. “Se não estratificamos a sociedade brasileira, não sabemos qual é o nosso objeto de análise. Não me fale em ‘o brasileiro’. Eu não o conheço, você não o conhece. Os brasileiros são muito desiguais e temos que contemplar esta complexidade”. Apresentou dados sobre o investimento e endividamento brasileiro e sobre mercados de capitais. Apontou para dois desafios da alavancagem financeira de políticas públicas pelo crédito de bancos públicos: a superação do “capitalismo de compadrio” e o apoio prioritário às micro, pequenas e médias empresas.

Finalmente, Costa falou sobre a visão de que a redução da atuação do Estado na economia gera um vácuo para ser ocupado pelo setor privado. “Em economia não existe isso. Se você retirar o Estado, diminui o tamanho da economia”.

Após as exposições, os economistas responderam às perguntas feitas pelos conselheiros federais. O debate pode ser visto na página do Cofecon no facebook.