Artigo – Confiança e Economia – consumo, investimento, crescimento, desemprego

A estagnação da economia e as incertezas políticas estão afetando em grau crescente a confiança de consumidores e de empresários, inibindo decisões de consumo e de investimento, com o risco da recuperação da economia ficar mais difícil.

Ao tratar de confiança e economia, o ensaísta Francis Fukuma autor do livro “O Dilema Americano” apregoa: “a confiança é a precondição da prosperidade”. E vaticina: “nas sociedades onde a confiança empresarial e do consumidor é baixa tendem aos desastres econômicos”.

Os motores do crescimento de uma economia são os agentes econômicos – empresas e famílias – e suas expectativas futuras. Dadas as quedas atuais da confiança desses agentes, analistas alertam que a economia brasileira ruma para a um desconfortável círculo vicioso. Mais desconfiança, menos consumo, menos investimento, menos crescimento, mais desemprego. E, por consequência, mais desconfiança.

Vejam os números:

Consumo: De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o consumo das famílias, umas das bases de sustentação do PIB, vinha crescendo desde 2017. Nos primeiros três meses de 2019, a alta foi de 0,3%, mas em processo de desaceleração. Quanto ao Índice de Confiança do Consumidor (ICC) medido pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) recuou 1,5 ponto em abril, ao passar de 91,0 para 89,5 pontos, acumulando perda de 7,1 pontos e atinge o menor nível desde outubro de 2018 (85,4 pontos).

Investimentos: O Índice de Confiança Empresarial (ICE) caiu 2 pontos em maio, para 91,8 pontos, o menor nível desde outubro de 2018. A taxa de investimento no primeiro trimestre de 2019 foi de 15,5% do PIB, abaixo do observado em 2018 (15,8%) e ainda bem longe do patamar acima de 21% registrado em 2013, antes da recessão, inibindo a capacidade de crescimento e reduzindo a de produção de longo prazo.

Crescimento: No início de 2019, o mercado e os economistas estavam otimistas com a percepção de que a aprovação da reforma da Previdência seria mais rápida.  Previa-se o crescimento do PIB em 2,7% para o ano. Passados cinco meses e com recuou de 0,2% no primeiro trimestre em reação ao mesmo período anterior, previsões mais pessimistas reduziram o crescimento econômico para 1,2% no corrente ano.

Desemprego: A taxa de desemprego teve ligeira redução no País, ao passar de 12,7% no trimestre encerrado em março para 12,5% no trimestre até abril. A população desocupada chega a 13,2 milhões. No entanto, se somarmos a essa parcela o total de desalentados e o número de pessoas sub ocupadas, ainda falta trabalho para uma população recorde de 28,4 milhões.

Muitos fatores vem sendo apontados como responsáveis pela queda da confiança das famílias e empresários, o negativo ou fraco desempenho do PIB e a falta de recuperação dos empregos: as incertezas políticas, a precária situação fiscal dos governos federal, estaduais e municipais, com destaque para o federal, o maior ente da economia; o cenário de incerteza do comércio exterior; o vacilante andamento das reformas.

A mídia tem de certa forma um papel nas expectativas pessimistas das famílias e empresários à medida que constantemente e de uma maneira seletiva dá muito destaque aos dados negativos da economia e ignora os positivos.

Cabem aos entes federativos e aos poderes legislativos criar um ambiente favorável para o crescimento e a promoção do emprego, tendo como referência que confiança deve aumentar se reforma da Previdência avançar, sem descuidar de  outros grandes desafios: reforma tributária, infraestrutura, concessões e privatizações, abertura comercial, redução da burocracia e da máquina pública.

E aí sim, conduzir a economia brasileira para um novo círculo virtuoso. Mais confiança, mais consumo, mais investimento, mais crescimento, mais emprego. E, por consequência, mais confiança.