Artigo – Reduzir a Selic estimularia a economia?

A taxa básica de juros na economia brasileira, a taxa Selic, foi reduzida de 14,25% para 6,5% entre outubro de 2016 e março de 2018, sendo este o menor nível na série histórica desde junho de 1996.

O Comitê de Política Monetária (Copom) anunciou a manutenção, pela oitava vez consecutiva, da Selic em 6,50% ao ano e indicou que, em seu cenário provável, o balanço de riscos para a inflação tornou-se simétrico. Ou seja, o risco de uma inflação mais alta, devido ao andamento das reformas e do cenário externo é equivalente ao risco de uma inflação mais baixa, por conta da ociosidade na economia.

O efeito líquido na política de crédito durante a queda da Selic foi negativo, a relação crédito/PIB caiu 3% e a quantidade de pessoas físicas e jurídicas com atrasos de pagamentos bateu novo recorde, com consequências negativas na retomada do crescimento e do emprego.

O Boletim Focus de 15 de outubro, do Banco Central (BC), prevê um crescimento de 1,95% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2019. Essa é a sétima revisão para baixo na expectativa de crescimento da economia. Além da queda no crescimento do PIB, a previsão para inflação também acelerou. Economistas preveem que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) feche 2019 em 4,06%, abaixo da meta de inflação estipulada pelo governo, de 4,25%.

Como explicar que a economia cresça tão pouco com juros básicos no mínimo histórico e o câmbio em patamares competitivos?

A economia é movida por expectativas e a queda na confiança reduz, ainda mais, o já insuficiente nível de investimento privado enquanto que o investimento público não será retomado intensamente sem um profundo ajuste das contas do governo. Nesse contexto é que um crescente número de agentes reivindica que caberia a política monetária introduzir um estímulo adicional para acelerar o processo de retomada da economia.

A decisão que se coloca é sobre qual o risco que deve ser assumido: cortar a Selic estimulando uma recuperação mais rápida com o risco de um repique inflacionário ou arriscar mais um ano de crescimento baixo com inflação controlada dentro da meta? 

  • Lauro Chaves Neto – Consultor, professor da Uece e conselheiro do Conselho Federal de Economia . Artigo publicado em 22/04/2019 pelo jornal O Povo (CE).