Abertura do XXX ENE abordou os entraves para o desenvolvimento regional nordestino

O presidente do Conselho Federal de Economia, Wellington Leonardo da Silva, participou da cerimônia de abertura do XXX Encontro de Entidades de Economistas do Nordeste (ENE), realizado na cidade de Imperatriz de 30 de outubro a 1º de novembro. O evento, realizado pelo Conselho Regional de Economia do Maranhão (Corecon-MA), ocorre no Auditório do Palácio do Comércio e Indústria e é voltado para economistas e estudantes de Economia. Clique aqui para conferir a programação completa.

A mesa de abertura foi composta pelo presidente do Corecon-MA, Frednan Bezerra dos Santos; pelo presidente do Cofecon, Wellington Leonardo da Silva; pelo delegado do Corecon-MA em Imperatriz e representante da Faculdade de Imperatriz (Facimp), Larlô Macedo; pelo diretor de Relações Institucionais da Vale, Dorgival Pereira; pela gerente do Banco do Nordeste, Graciele Fonseca; pela presidente do Conselho de Mulheres Empresárias da Associação Comercial e Industrial de Imperatriz, Joçara Felipe; pela representante da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Camila Gomes; e pelo presidente da Associação Comercial e Industrial de Imperatriz, Guilherme Maia.

Em seu discurso de boas-vindas aos participantes do evento, o presidente do Corecon-MA destacou os desafios para a realização do ENE na cidade e informou que Imperatriz já conta com dois cursos de Economia. Desde o ano passado, funciona uma delegacia regional para economistas no local. “Pretendemos ter um espaço de referência para os economistas no interior do nosso estado e desenvolvermos projetos de valorização da nossa profissão”, disse Frednan. O presidente do Corecon-MA abordou um panorama histórico do Maranhão, destacando os principais aspectos da economia local desde o século 19 até a atualidade e buscando explicações sobre as desigualdades regionais.

Já o presidente do Cofecon destacou as desigualdades sociais brasileiras, abordando a Campanha pela Redução da Desigualdade Social no Brasil, e mencionou que a última edição da revista Economistas, publicação trimestral do Cofecon que foi distribuída no evento, traz artigos econômicos escritos por profissionais de cada região brasileira, retratando seus principais desafios. Em seu discurso, Wellington Leonardo analisou as principais propostas econômicas do presidente da República eleito, Jair Bolsonaro, tais como a carteira de trabalho verde e amarela. “A lógica de precarizar o mundo do trabalho vai levar os trabalhadores a uma situação de semi escravidão para que tenham qualquer coisa que lhes garanta o arroz e o feijão. O que vemos é um aprofundamento cruel da reforma trabalhista”, pontuou.

Após a abertura, houve a palestra sobre “A importância das Instituições para o planejamento e desenvolvimento regional”, com apresentações dos economistas Adriano Sarquis Bezerra de Menezes e de Lauro Chaves Neto, presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE).

Ao analisar a problemática regional, Adriano afirmou que existem dois principais desafios para o Nordeste: desigualdade e pobreza. Segundo o economista, 75% do PIB regional está em 10% dos municípios, onde vive mais de metade da população. Destacou que 1.500 municípios contam com apenas 20% do PIB regional e que, além disso, os 10% mais ricos detêm 45% da renda estadual enquanto os 50% mais pobres ficam com 15%. “Outro dado alarmante é que 9,4% da população nordestina vive em extrema pobreza. Essa situação é constrangedora para a região”, lamentou. Para o especialista, mesmo com tantas diferenças entre os estados nordestinos, a pobreza é um fator comum. É preciso criar condições para que as empresas tragam investimento para a região, o que proporcionaria mais emprego e renda. Adriano também recomendou ser preciso investir em qualificação profissional. “Hoje a média de salário é de R$ 1 mil, o que corresponde a trabalhos com baixa qualificação. No entanto, vale destacar que os jovens de hoje estão com um grau de instrução maior do que há 10 ou 15 anos atrás”, disse o economista.

Adriano Sarquis defendeu que políticas de equidade são fundamentais para o desenvolvimento regional. “O Estado precisava atuar mais perto da população para proporcionar equidade, o que pode ser feito por um educação de qualidade. Nos países desenvolvidos, os jovens entram no mercado de trabalho em condições iguais. No Brasil, isso não acontece. Equidade é garantir que, ao entrar no mercado, uma jovem que nasceu em circunstâncias mais difíceis possa ter condições iguais às daquele que nasceu em um berço privilegiado”, explicou.

Lauro Chaves Neto destacou a importância da geografia para o desenvolvimento regional. “Me refiro ao território que vamos desenhar, e ele é humano e social, não somente físico”, disse. O presidente do Corecon-CE citou como exemplo a Rota das Emoções, uma iniciativa do Sebrae que integra os estados do Ceará, Piauí e Maranhão. “Foi desenvolvida uma política de turismo para esse território específico, e isso é uma institucionalização. O papel das instituições é muito mais forte do que o conceito tradicional”, afirmou Lauro.

O economista afirmou que a pobreza é algo “menos difícil” de ser combatido do que a desigualdade. “Políticas públicas focalizadas conseguem combater a pobreza, principalmente a extrema pobreza. Isso pode ser feito até de maneira rápida e não muito cara, basta ter vontade política. Reduzir a desigualdade é muito mais complexo porque estamos falando em mexer na estrutura da sociedade e isso, muito mais do que um viés ideológico, é uma questão de justiça social com as pessoas”, analisou Lauro Chaves. O presidente do Corecon-CE destacou, ainda, que os penalizados pela crise econômica têm muito menos poder de pressão do que os 10% mais ricos, que conseguem se defender por sua influência nas entidades e na imprensa. “Muitas vezes, a única alternativa dos mais pobres é pressionar com violência, infelizmente”, disse.