Em palestra no SINCE, Ladislau Dowbor apresentou “A era do capital improdutivo”

Na abertura do XXVI Simpósio Nacional dos Conselhos de Economia (SINCE), realizada no dia 19 de setembro em Porto Velho, o economista Ladislau Dowbor foi homenageado como Personalidade Econômica do Ano de 2017 e também ministrou palestra sobre “A era do capital improdutivo”, tema tratado em seu último livro.

O palestrante abordou sua experiência internacional, conquistada durante anos trabalhando como consultor para a Organização das Nações Unidas, como determinante para avaliar cenários de diversos países. “Eu me dei conta do que funciona na minha interpretação, analisando o comportamento de diferentes nações. Atualmente estou voltado para uma cultura, para uma visão pragmática do que funciona; e percebi que o que funciona em numerosos países é quando as pessoas se organizam em torno de seus interesses, e em geral não é Papai Noel que resolve”, disse o economista.

Dowbor exemplificou que na Alemanha, os bancos têm apenas 13% dos ativos financeiros, já que os alemães investem nos chamados “caixas de poupanças municipais”. “Interessante isso, o alemão segura o controle do seu dinheiro”, disse. Para Dowbor, não se trata do dinheiro financeiro, mas em geral. “Na Suécia cerca de 72% dos recursos públicos arrecadados por impostos, e lá os impostos são muito mais elevados que a nossa carga tributária, são repassados para os poderes locais. É dinheiro com rédea curta. Sabemos que com muito dinheiro a tendência a evaporar é muito grande”, refletiu o palestrante.

Em relação às divisões ideológicas na economia, disse que se sente mal quando tentam rotulá-lo em um dos lados. “Eu quero entender o que se passa no Brasil. Há um desnorteamento geral. Quando busco alternativas e soluções, quando tento nos meus livros trazer algo útil, penso justamente nesse enraizamento de devolver democraticamente às populações, em particular em nível local, o controle dos recursos”, argumentou Ladislau. O economista afirmou, ainda, que não acha viável conquistar uma democracia política no Brasil enquanto não houver uma democracia econômica.

Sistema Financeiro e a Desigualdade Social

Ladislau Dowbor afirmou que a solução para um mundo com menos desigualdades é simples: seguir os objetivos de desenvolvimento sustentável assinados por todos os países, inclusive o Brasil, para reduzi-las, além de diminuir os desequilíbrios ambientais do planeta, que, em sua opinião, vão se tornando absolutamente explosivos. “A questão central é: 1% dos mais ricos têm patrimônio acumulado maior do que os 99% seguintes. A partir de um nível de patrimônio financeiro, o efeito multiplicador é absolutamente fenomenal, o que gera essa situação de gente que consegue ter esses bilhões que se multiplicam sem produzir coisa alguma. É o que eu tenho chamado de capital improdutivo”, observou.

Ladislau Dowbor é economista e professor titular de pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Foi consultor de diversas agências das Nações Unidas, governos e municípios, além de várias organizações do sistema “S”. Autor e co-autor de cerca de 40 livros, toda sua produção intelectual está disponível online na página dowbor.org.