Artigo – Economia na banguela

greve dos caminhoneiros, que colocou de joelhos o moribundo governo Temer, tem suas raízes na política de “privatização por partes” da Petrobras, que já envolveu a venda da malha de gasodutos; de cerca de 30% dos campos do Pré-Sal; da oferta de venda da BR Distribuidora e de 4 grandes refinarias, associada à forte contração dos investimentos, o que resultou na redução do refino de óleo bruto pela estatal, fazendo com que o Brasil importe atualmente 650 mil barris/dia de derivados de petróleo, ao custo de 1,3 bilhão de dólares/mês.

Para agravar o quadro, Pedro Parente, o presidente da Petrobras, que quando ministro de Minas e Energia de FHC foi o responsável pelo apagão de 2001/02, implantou uma política de preços a partir exclusivamente das regras de mercado, buscando atender aos acionistas privados, essencialmente investidores norte-americanos.

O resultado foi o aumento de 48% no preço do diesel nos últimos 9 meses, com vários reajustes ao longo do mês, o que impede qualquer previsibilidade na contratação de fretes pelos caminhoneiros. Deve ser lembrado que, além do diesel, houve fortes reajustes no preço da gasolina e do gás de cozinha, o que levou 5 milhões de residências a fazer o uso de lenha para cozinhar. Incrível!

A gestão privatista da Petrobras é uma tragédia e as consequências para a economia brasileira são gravíssimas. O valor da Petrobras na Bolsa de Valores caiu R$ 100 bilhões em 6 dias e, por efeito dominó, a Bolsa despencou de 87 mil para 76 mil pontos, com o dólar subindo para R$ 3,73. Com tudo isso, o crescimento do PIB em 2018 definha. Inicialmente projetado pelo mercado em 4%, já se estima que oscilará entre 1,5% e 2% e não me surpreenderá se repetir o desempenho de 2017, ou seja, 1%, o que em termos de PIB per capita significa crescimento zero.

Frequentemente se criticam os caminhoneiros por descerem ladeira abaixo com os caminhões em ponto morto, mas dessa vez foram Temer, Meirelles, Parente & Cia que colocaram nossa economia na banguela.

Júlio Miragaya – Conselheiro do Conselho Federal de Economia, foi presidente da autarquia em 2016/17