Artigo – A volta do efeito Orloff?

Em entrevista ao jornal O Globo concedida à jornalista Eliane Oliveira, publicada neste domingo 13, o ex-ministro da Fazenda e embaixador Rubens Ricupero fala sobre o efeitos da alta dos juros americanos sobre as nações emergentes.  Para ele, “O que acontece com a Argentina é a primeira manifestação da tempestade que pode vir por aí”. Para tanto, informa que a “Argentina, Brasil e outras nações emergentes não vão escapar dos efeitos do que ele chama de ‘fim de uma era’: os juros americanos, baixos desde 2008, vão continuar subindo”.

Acrescenta: “Existe um impacto muito grande no setor de petróleo, devido à política da Arábia Saudita de segurar a produção. Isso é sentido na inflação americana, que está chegando ao que o governo americano considera razoável, uma taxa de 2%. Se a inflação passar de 2%, o Federal Reserve poderá chegar à conclusão de que tem que aumentar mais depressa a taxa de juros. E vai sair dinheiro tanto da Argentina como daqui. Para a Argentina, vai ser ainda mais complicado, porque toda a estratégia do país, em vez de fazer o ajuste fiscal, foi buscar dinheiro fora. Mas o Brasil também sofrerá, porque os capitais vão procurar as letras do Tesouro americano, que começam a ter uma remuneração melhor.”

Estamos aqui no Brasil com uma inflação controlada e o que se vislumbra até o presente momento é que não chegará ao centro da meta fixada em 4,5% para este ano. É mais do que sabido, este número baixo é decorrente da perda de fôlego da recuperação econômica.

O país está com 14 milhões de desempregados, o consumo cai drasticamente, o comércio não vende e não faz encomendas para as indústrias, que reduzem a produção. Quem está empregado mantém o cinto apertado, o que ajuda ainda mais a manter essa inflação baixa.

O que se sente é que está tudo parado e aguardando não se sabe bem o que. Entre essa e outras incógnitas,  os combustíveis, mesmo antes da atual alta do petróleo, já subiam, ainda assim não foram repassados aos preços e não houve medição das altas.

No atual cenário eleitoral não se vislumbra uma tendência de uma polarização entre dois ou três candidatos. A se acreditar nas pesquisas feitas até agora, o candidato com maior percentual está preso e parece que é este o seu teto, que não será repassado para outros candidatos. O segundo lugar também parece ter atingido o seu limite. Não existem certezas, muito pelo contrário, o que se vê são incertezas.

Essas incertezas impactam os investidores que reagem em fugir de riscos e ao cenário de possível alta dos juros americanos a serem acompanhados por outros países mais seguros que o Brasil.

Nesta semana teremos nos dias 15 e 16 a reunião do Copom e tudo está indicando mais um corte de 0,25 ponto na Taxa Selic, o que a levará para 6,25%. O Banco Central, pelos dados de que dispõe, prevê que conseguirá manter esta taxa até o final do ano, havendo elevação em 2019.

Só que uma alta dos juros americanos e até uma ameaça da China de não comprar mais títulos do Tesouro americano indica a elevação das taxas pagas aos Treasuries. O efeito será de elevação das taxas de juros ao redor do mundo. A Argentina foi já a primeira a sentir esse efeito.

Em 1985, no governo Sarney, apareceu um comercial na televisão cuja a cena transcorria em um bar, apareciam dois personagens, que eram a mesma pessoa, onde um recomendava para si que trocasse o pedido da bebida para a vodka que não dava ressaca e dizia “Eu sou você amanhã”.

Como tudo o que a Argentina fazia em matéria de planos econômicos era adaptado para o Brasil e vice-versa,  apelidaram de “Efeito Orloff”.

O Banco Central do Brasil dispõe de US$ 381,781 bilhões em Reservas Internacionais, o que lhe dá bastante fôlego. Por outro lado, o dólar está subindo e subindo rápido, o que fez o BC  vender na quarta – feira passada contratos de swap cambial reverso no total de US$ 1,549 bilhão. Ainda assim o dólar teve uma alta de 5,54% em três semanas, fechando o comercial em R$ 3,60 na semana que passou. O Boletim Focus, divulgado nesta segunda – feira 14, mantém tendência de alta para a moeda americana

Mas, há sempre um mas, a inflação, que atualmente se mantém baixa pela falta de consumo, ainda assim está mostrando que poderá crescer. Alguns vão dizer que a desvalorização do Real frente ao Dólar é bom para as exportações como as do agronegócio e outras commodities, entretanto, sempre deverá haver uma equalização repassada para os preços internos.

Vão segurar tudo o que pode ser segurado, menos alta do barril de petróleo no mercado internacional, até o fim do segundo turno das eleições em outubro vindouro.

Espera-se que a atual equipe econômica acerte a mão e não venhamos novamente ter um Efeito Orloff.


Décio Pizzato é Economista.