Artigo – Autocracia no Cofecon

Conselho Federal de Economia representa os 250 mil economistas brasileiros. Dentre suas atribuições estão contribuir para a formação de sadia mentalidade econômica; promover estudos e campanhas em prol da racionalização econômica do País; servir de órgão consultivo do Governo em matéria de economia profissional; além, é claro, de orientar e disciplinar o exercício da profissão de economista.

Foi assumindo posicionamentos consistentes e democraticamente deliberados que o Cofecon alcançou protagonismo no debate econômico nacional, expresso em 3.850 inserções na mídia em 2015/16/17. No momento em que o Brasil sofre um nítido retrocesso social e institucional (73% dos brasileiros, segundo pesquisa Ipsos-Estadão, acham que os “poderosos” querem tirar Lula da eleição), o papel do Cofecon torna-se ainda mais relevante na defesa de uma economia voltada aos interesses da nação, dos direitos sociais e do Estado de Direito.

Por dois anos presidi essa prestigiosa autarquia, sempre respeitando a pluralidade da categoria, pelo simples fato da Economia possuir diferentes escolas de pensamento. Durante anos o Cofecon criticou o chamado “pensamento único” na Economia, ou seja, de que haja uma única alternativa na condução da Política Macroeconômica, pregada notadamente pelos economistas associados ao capital financeiro. Dessa forma, os posicionamentos oficiais do Cofecon sempre ocorreram após intensos debates em plenária, refletindo a opinião consensual ou majoritária.

Lamentavelmente, pela primeira vez em anos, foi publicado no site do Conselho uma nota de autoria do (atual) presidente da autarquia (Carta aberta do Cofecon aos brasileiros) como se fosse um posicionamento da instituição. Mesmo diante da contestação de 70% dos conselheiros, o presidente, de forma autocrática, manteve a assinatura da autarquia em seu texto. Não se trata do conteúdo do documento, mas sim de se respeitar a democracia interna. Respeito à democracia é bom, no Brasil e também no Cofecon.

Júlio Miragaya, conselheiro do Cofecon e presidente da autarquia em 2016/17.