Artigo – Sonho e realidade

O Brasil chega à Páscoa acompanhando a batalha travada no STF: se a Constituição Federal será respeitada ou se vingarão as medidas de exceção propostas por parte do Poder Judiciário. O dilema expressa outra batalha: entre o mercado financeiro, que sonha com governantes que promovam reformas pró-mercado, e o povo, que quer governantes que privilegiem programas sociais.

Para desespero dos liberais, nos dois principais países da América Latina (México e Brasil), e que terão eleições esse ano, López Obrador e Lula lideram todas as pesquisas, com cerca de 40% dos votos. A onda de assassinatos políticos no México e os ataques à caravana de Lula no Sul por grupos de extrema direita apenas corroboram esse quadro, com os esperados protestos de latifundiários e grandes empresários e o apoio de agricultores familiares e sem-terra.

Em Brasília, a Codeplan divulgou o Idecon-DF, indicador de desempenho econômico por mim instituído quando gestor do órgão, apontando uma obscura realidade: queda de 0,3% do PIB em 2017, enquanto o PIB nacional cresceu 1%. A retração pode ter surpreendido alguns, mas me pareceu óbvia, pois o excessivo grau de dependência em relação ao setor público faz com que nossa economia prospere em períodos de bonança fiscal e se retraia em momentos de crise fiscal. A queda foi puxada pela retração no setor de serviços, que no DF está fortemente associado aos serviços pessoais, dependentes da estagnada massa salarial.

A diversificação de nossa estrutura produtiva é o remédio óbvio que venho sugerindo há anos, mas que não encontra eco em nossos governantes, reféns das estratégias curtoprazistas de seus mandatos de quatro anos. Resta ao Secretário de Economia e Desenvolvimento sonhar que em 2018 tenhamos um setor público equilibrado, ainda que a realidade indique um déficit público de R$ 159 bilhões, e que não tenhamos instabilidade política, embora seja um ano eleitoral. É como torcer para o Arapiraca ou o Fortaleza sagrar-se campeão brasileiro.

Júlio Miragaya – Conselheiro do Conselheiro Federal de Economia, foi presidente da Codeplan em 2012/14.

Artigo publicado na edição de 29/03/2018 do Jornal de Brasília