Artigo – Marielle vive!

O assassinato de Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes atingiu os corações e as mentes de todas as pessoas de bem. Nascida na favela da Maré, Marielle era uma legítima representante da luta das mulheres, dos negros e dos trabalhadores por um mundo mais justo, era a principal voz que ousou denunciar as barbaridades perpetradas pela polícia e pela milícia contra os pobres nas favelas e nas comunidades de baixa renda do Rio de Janeiro.

Conheci Marielle em 25 de janeiro deste ano, quando ela esteve presente no evento de posse dos novos conselheiros do Conselho Federal de Economia. Sua fala impactou a todos ali presentes, pois expressou sua revolta contra a extrema desigualdade social que marca a sociedade carioca (e brasileira), a brutal exploração do trabalho, a opressão dos poderosos e a violência que vitima anualmente dezenas de milhares de brasileiros.

É sabido que a violência está intimamente associada à desigualdade social. Não por acaso, entre as 50 cidades mais violentas do planeta, nada menos que 41 (82%) situam-se em cinco dos países com maior desigualdade na distribuição da renda e da riqueza (Brasil, México, Colômbia, Venezuela e EUA), segundo a ONG mexicana Segurança, Justiça e Paz.

Marielle, em sua intervenção na reunião com mulheres negras que antecedeu seu assassinato, citou uma mensagem de Audrey Lorde, feminista norte-americana: “Não sou livre enquanto outra mulher for prisioneira, mesmo que as correntes dela sejam diferentes das minhas”. Que a luta de Marielle não seja em vão.

Enquanto nas ruas o povo exige a rápida apuração de quem executou Marielle e a presidente do STF se verga à pressão do capital financeiro (que, nervoso, cobra a “certeza de que Lula não concorrerá às eleições”, segundo diretor da corretora Intercam), a economia brasileira caminha em sua titubeante e incerta trajetória de recuperação.

Júlio Miragaya –  Conselheiro do Conselheiro Federal de Economia, foi presidente da autarquia em 2016/17

Artigo publicado na edição de 23/03/2018 no Jornal de Brasília