Artigo – Em defesa da Organização Mundial para os Investimentos

Foi por volta de 1995, data da criação da Organização Mundial do Comércio (OMC), que escrevi um artigo em que o objeto principal era a defesa da criação da Organização Mundial para os Investimentos (OMI). Já se vão mais de 20 anos e o tema à luz dos dados que fundamentara tal artigo se encontram atual: o desemprego estrutural. Aquele que se manifesta além das crises cíclicas do capitalismo. Além das circunstâncias do curto prazo.

O desemprego entre os jovens (entre 16 a 24 anos) na OCDE atingiu 13% em 2016. Segundo o professor Carlos Alberto Ramos do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), in “VIRAR ADULTO NO MOMENTO ERRADO. ENTRAR NO MERCADO DE TRABALHO EM TEMPOS DE CRISE”, Revista de Conjuntura do CORECON-DF, ano XVII, número 60, Maio/Agosto de 2017, esse índice varia de economia para economia. “A economia alemã tem um percentual de jovens desempregados extremante baixo (7%), no tanto outros como a Grécia (47%) se situam em patamares maiores muito elevados (França, 25%), Portugal (28%), Itália (38%), Espanha (44%), chegando a 53% na África do Sul”. No Brasil esse índice em 2017 é de 30%. Nos Estados Unidos, 1,5 milhão de trabalhadores, mesmo com o crescimento robusto da daquela economia, não encontram emprego.

As causas dessa tragédia não devem se circunscrever a características do mercado do trabalho para jovens desse ou daquele país, mas ao estágio de desenvolvimento do capitalismo global. A negação a essa tendência tem um princípio inegociável para a economia: não há produção sem consumo e não há consumo digno sem trabalho. Segundo a Folha de S. Paulo, de 21.1.2018, Mercado, “A elite política e econômica global está preocupada com o futuro do trabalho… Só no Brasil 15,7 milhões de trabalhadores serão afetados pela automação até 2030, segundo estimativa da consultoria McKinsey”.

Desde 2010, o número de robôs industriais cresce a uma taxa de 9% ao ano, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT). Segundo a Folha de S. Paulo, no Brasil, cerca de 11,9 mil robôs industriais serão comercializados entre 2015 e 2020, segundo a Federação Internacional de Robótica, a Roboris. O que explica a troca da mão de obra por robôs e consequentemente por mais consumo de energia é uma inequação simples. Que se indaga, inequação da vida ou da morte?

Para um mesmo período de produção e para o mesmo volume de produção, de um lado tem-se consumo de energia e de outro o emprego da mão de obra. Se o custo do consumo de energia mais o custo de manutenção mais a depreciação é mais barata do que o emprego da mão de obra, troca-se trabalho vivo por trabalho morto. E uma decisão simplória ao nível produção que põe em cheque toda estrutura do mercado de trabalho, principalmente para os jovens e toda a estrutura de demanda da economia.

Em nome dos desempregados do Brasil e do mundo por causas estruturais é que se defende a criação da Organização Mundial para os Investimentos, cuja atividade seria regular, via tributação a nível global, a inserção da automação nas diversas áreas de trabalho. O empresário individual não pode por si mesmo decidir sobre o destino do capitalismo, o rumo do capitalismo ao natural não se chega a lugar algum. É preciso mudança de rumo ao longo do tempo, como se deu em 1947 com a criação do GATT e que foi aperfeiçoada com a criação da OMC, em 1995, logo, de uma força jurídica de um organismo internacional e o assentimento dos estados nacionais.

Carlos Magno – Economista e Escritor.