Artigo – Vale do Silêncio

  • 14 de dezembro de 2017
  • Artigo

O filósofo italiano Umberto Eco foi um dos primeiros a identificar o que hoje é muito evidente: as redes sociais deram voz a legiões de imbecis. É imensurável o contingente de pessoas que, se antes eram incapazes de concatenar um raciocínio lógico elementar ou redigir um único parágrafo, hoje se aventuram a emitir opiniões sobre todo e qualquer assunto, escondendo-se atrás de um mouse. Alguns dirão que se trata de preconceito, que as redes sociais são a democratização da informação, mas será mesmo?

O historiador escocês Niall Ferguson, em recente palestra no Brasil, teceu ácidas críticas às empresas de tecnologia do Vale do Silício, que “prometeram que as redes sociais gigantes on-line tornariam o mundo melhor, onde todos seríamos mais críticos, mas o que restou foi a geração de uma empobrecida polarização e fartura de ‘fake news’ (notícias falsas), nos transformando numa sociedade global incivilizada”.

Ferguson afirma que isso era previsível, pois “a prioridade de empresas como Google e Facebook é gerar receita com publicidade e não tornar o mundo melhor”. Deve mesmo ser, pois o valor de mercado das cinco gigantes da tecnologia – Google, Facebook, Microsoft, Apple e Amazon – já é superior a US$ 2 trilhões.

Na mesma linha o jornalista Noam Cohen, do NYT, cita o “efeito rede” criado por Zuckerberg (Facebook): “pessoas usarão o seu serviço, por mais cretino que ele seja, se outros o usarem”. Cohen conclui que “Quem se opõe ao Vale do Silício parece estar se opondo ao progresso, mesmo que o progresso na prática possa ser definido como a criação de monopólios on-line”. Diante das críticas, o silêncio.

O progresso tecnológico tem sido crucial para a ciência em geral e para a medicina, mas sua apropriação pela indústria bélica e pelo mercado financeiro, assim como o monopólio da informação, não têm trazido benefícios à humanidade, ao contrário, têm sido instrumento de concentração da renda e da riqueza, de destruição, segregação e alienação.

 

Júlio Miragaya, Presidente do Conselho Federal de Economia